Tuesday, January 27, 2009

Narradores de Javé

Narradores de Javé é um filme que seria bem melhor enquanto peça de teatro, seu ponto forte é a roteiro, em torno de 1:37 min. Sem grandes fotografias, iluminação ou maquiagem, isso interfere bastante na qualidade da película, e talvez isso responda ao meu amigo Muty, porque este filme não tem a popularidade do Auto da Compadecida, originalmente uma peça de teatro. Ainda sim, o Auto da Compadecida é melhor enquanto história que aborda o imaginário nordestino, muito mais rica sem comparação.

O Narrador de Javé não pretende tratar ou exibir a cultura nordestina enquanto foco, mas um conflito que se tem entre o progresso e a memória e valores de um povo. Javé é um vilarejo nordestino que o símbolo mais significativo da cultura é o sino da igreja. Diante da eminente inundação da cidade para construir a hidrelétrica, o povo se mobiliza para evitar a extinção da cidade, e a única possibilidade é contar sua história e torná-la significativa para o Brasil (fazer o tombamento da cidade), e daí surgem narrações interessantes de um povo que ao tempo que desejam contar a história da cidade, desejam valorizar o nome da família, cada um conta a partir da própria perspectiva, os "causos" nordestinos. O mais belo do filme é a idéia de esperança, as pessoas poderem lutar até o último momento que inundou o vilarejo, e assim que perceberam que não tinha mais jeito, resolveram contar e guardar a memória escrita da cidade, e a própria história da inundação. A memória como eixo da construção da identidade dos indivíduos e da cidade. Alguns conflitos se estabelecem, tais como a distância entre a história e a memória, e entre a memória escrita e memória oral. É muito interessante, porque o meu blog vivo estes conflitos.
Contudo, meu amigo, Muty, é um filme mediano, que a lógica do roteiro das piadas se repete em vários quadros, e mesmo o filme sendo curto, tornasse cansativo o tom das piadas, apesar de serem inteligentes, por exemplo, chamar uma figura de “manicure de lagartixa”, “DNA de jacaré”, e outras que são perversamente engraçadas. Só que como tínhamos conversado o que mais te encantou foi ver o povo simples contar a própria história mesclada com a memória da história do Brasil: os "nobres" de portugal, africanos, índios, e eu assistir o filme com os seus olhos.

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