Sunday, September 30, 2007

Um novo mundo

Um novo mundo…
De desejos, buscas e excitações
Um estrangeiro desiludido de sua vida
Um ancorar em novas terras
Um líder de motim, em busca de si próprio,
embrenha-se em matas virgens e se vê capturado
É salvo por uma bela mulher, que aprendem no silêncio das línguas o amor
O amor, Um novo sentido é dado ao silêncio

"Não cobiçaras o jumento do teu próximo..."






Estava cravada na praça da estação de ônibus de Juazeiro(BA) - "A Lei de Deus". Parei atentamente para ler, o ônibus demorava há uma hora, e esperava encontrar na primeira lei: "TENHA PACIÊNCIA". Como todos sabem, estava escrito - "não terás outros deuses diante de mim". Não estou aguentando com um, vou aguentar com outros.
E li um por um, imaginando já no quinto mandamento que ia parar no inferno, quando me deparei com o último "...não cobiçaras o jumento do teu próximo...". Fiquei imaginando quem cobiçar irá para terra do jumento sem cabeça, nem Dante conseguiu imaginar este inferno. Fato curioso: casa, mulher, boi, servo (a), jumento é tudo parte integrante deste mandamento. Então mulheres, fiquem à vontade para cobiçar, o homem da tua próxima, nada a respeito sobre isso.
São tantos "nãos" nos mandamentos, bem que poderia se chamar "negamentos". Uma coisa é garantida, não há mandamento ordenando para não escrever sobre a Lei de DEUS. Lei de Deus? Imagine se Deus iria se preocupar com a cobiça do jumento do próximo. Só se fosse um jumento com airbag, vidro eléttrico, freios ABS e conversível.
Bem que as avós de todo mundo dizia: cabeça vazia é morada do demônio. Quem manda o ônibus ficar demorando.

Sunday, September 16, 2007

Megabytes de poesias

Onde estão as poesias...? Basta a primeira tentativa de dar significado para que fiquemos aprisionados nisso que “não ousamos dizer o nome”. Voltei de Salvador tão perdidamente desconect@do, estranhava tudo...ver um amigo arrumar a casa, para mim não fazia sentido. Ouvir sobre o trabalho muito menos.
Estava com a cabeça tão virtu@lmente em muitos lugares, que não podia estar em lugar nenhum – era você e o estar ou não estar mais aqui. Queria te ver, não queria, queria sim...o que fazer? Estava sem minha conexão on line.
Estar aqui me deu uma série de noções da realidade, e não sabia o que fazer com elas, seria tão fácil se pudesse dar um reset. Um amigo falou que sabia que estávamos trocando cartas, tentava em vão saber o que estava ocorrendo. Nada contra, adoraria dizer, se soubesse. “Além de nós, existem mais...” pensei comigo, a partir de e com você, tudo muda para mim, e mudará.
Sei quando diz que nossas conversas levam a um sentimento. Antes mesmo das nossas conversas me vi absorto em pensamentos/sentimentos, e eram cada vez mais persistentes. Depois de irmos ao circo e passarmos a noite no sereno, fui dormir pensando em você. Acordei, fui à feira te imaginando ao meu lado; voltei, arrumei a minha mala com você ao meu lado; me atrasei para pegar o ônibus de tanto pensar em você, sair correndo pela rua atrás de um taxi e esperava te encontrar. Entrei no ônibus e lembrei-me de você o tempo todo, da primeira vez que viajamos.
O ônibus quebrou, fiquei duas horas esperando socorro, e não me sentia aborrecido, pois estava pensando em você, resolvi escrever para minimizar esta doce perseguição, e fiz um texto na tentativa de re-construir os caminhos do amor. Rascunhos que chamei de “Trajetória do Amor”, e acabei perdido, este mapa sabia aonde chegar, mas não sabia como chegar lá e nem tem o caminho de volta. Era um (a)mar de imagens e situações que estavam sempre incompletos, loading ................
Achava que assim que chegasse a Salvador, iria me esquecer (eu deveria escrever “te esquecer”, leve lapso), não conseguir e me flagro enviando megabytes de poesia para você...
Uma parte da história é essa...sair da conexão
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Tuesday, September 04, 2007

A filosofia do iluminismo

Este texto são resumos e estudos do iluminismo. Devo minha iniciação, admiração, e o reconhecimento do Iluminismo no saber da atualidade ao organizado professor José Menezes.



A Filosofia do Iluminismo - Cassirer, Ernest.


Não consiste um conteúdo doutrinal que tenha tentado elaborar e fixar dogmaticamente.

No tocante ao conteúdo de seu pensamento permaneceu muito dependente dos séculos precedentes.

Apropriou-se da herança desses séculos. Ordenou, examinou, sistematizou, desenvolveu e esclareceu muito mais do que contribuiu com idéias originais e sua demonstração. (um novo modo de linguagem que resgata as idéias do passado e lança a base para a filosofia moderna)

O novo e original é nova forma de pensamento filosófico.


Na Inglaterra e na França – quebra o molde do conhecimento filosófico, o sistema metafísico. Então, não caberia mais a filosofia restringir-se à tarefa de deduzir verdades da cadeia de axiomas fixados. Coube aos filósofos das Luzes discutirem a forma fundamental da realidade, de toda existência, tanto natural quanto espiritual.

A filosofia não está num domínio particular do conhecimento situado acima das verdades da física, das ciências jurídicas e políticas, ou qualquer outra ciência da natureza ou humanas. Mas é o meio universal onde todas essas verdades formam-se.

O sentido verdadeiramente fecundo do pensamento iluminista: menos por um conteúdo do pensamento determinado do que pelo próprio uso que faz do pensamento filosófico, pelo lugar que lhe confere e pelas tarefas que lhe atribui.





Os filósofos costumam dar uma importância menor ao iluminismo, considerando-a apenas como “filosofia da reflexão”. Cassirer atribui a Hegel este caminho de crítica, e obviamente, pelo peso de seu nome acabou legitimando esta visão do Iluminismo.

O esforço principal da filosofia do Iluminismo não se limita a acompanhar a vida e a contemplá-la no espelho da reflexão. Mas funda-se na espontaneidade originária do pensamento, não é restringi-lo a um papel de comentar a posteriori e de refletir, mas o poder e o papel de organizar a vida. (Ora, quem começa a inserir o discurso sexual dentro da seara do pensamento filosófico de forma sistematizada, atribuindo poder de causa e de ordem social, é o Iluminismo. Anterior a isso era uma literatura erotizada, que tinha mais o efeito de quebra de tabus do que explicações filosóficas e científicas, mas estas literaturas foram fonte de inspiração para os Iluministas)


O Iluminismo não cabe um estudo do desenvolvimento de sistema em sistema, como é possível do século XVII. Descartes a Malbranche, de Spinoza a Leibniz, de Bacon e Hobbes a Locke. No limiar do século XVIII, este método de estudo da história da filosofia não pode ser empregado, pois carece de força de lei e representatividade.

O iluminismo não pode ser estudado por uma doxologia, ou seja, não se destaca da soma e da sucessão cronológica de opiniões. Mas sim, na arte e na forma de conduzir os debates de idéias.


I – O Pensamento da era do Iluminismo

D´Alembert traçou um painel onde procura definir a situação do espírito humano em meados do século XVIII. Assinalou antes o seguinte:

Meados do século XV inicia-se o movimento literário e intelectual da Renascença..
Meados do século XVI, a Reforma religiosa está no apogeu.
Meados do século XVII é a vitória da filosofia cartesiana que provoca uma revolução radical na imagem do mundo.

Texto na íntegra de D´Alembert – leiam no livro.


Sobre o texto:
Aborda o mundo com a nova alegria de descobrir e com um novo espírito de descoberta. O pensamento sente-se ainda mais profundamente conquistado, mais apaixonadamente comovido por uma outra questão: a de sua própria natureza e do seu próprio poder.

É uma época que sente uma nova força atuando e que está menos fascinada pelas criações incessantes desta força do que pelo seu modo de ação.

Quando o século XVIII quer designar essa força, sintetizar numa palavra a sua natureza, recorre ao nome de Razão.

A “razão” é o ponto de encontro e o centro de expansão do século, de seu querer e de suas realizações. O século XVIII está impregnado de fé na unidade e imutabilidade da razão.

A razão é uma e idêntica para todo o indivíduo pensante, para toda a nação, toda a época, toda a cultura.

A expressão “Razão” ou racionalismo têm pouco peso, mesmo no sentido de uma característica puramente histórica. Vamos decompor um pouco este termo, dando sua importância entre os Iluministas, que se auto titulavam “século da Luzes”. Qual diferença específica da Razão?

De imediato é uma diferença negativa. O século XVII via na construção de “sistemas filosóficos” a tarefa própria do conhecimento filosófico. Então era preciso que o saber tivesse alcançado e estabelecido com firmeza a idéia primordial de um ser supremo e de uma certeza suprema intuitivamente apreendida, e que tivesse transmitido a luz dessa certeza a todo o ser e a todo o saber dela deduzido. (...) A única explicação de que é suscetível consiste em sua “dedução” rigorosa e sistemática, a qual o reconduz à causa primeira do ser e da certeza, permitindo assim avaliar a distância a que se encontra em relação a essa causa primeira e ao número de elos intermediários que o separam daquela. (p.24)

O século XVIII renuncia a esta forma de “dedução”, de derivação e explicação sistemática. Busca uma outra concepção da verdade e da filosofia, uma forma dotada de mais liberdade e mobilidade, mais concreta e mais viva. Em vez do Discurso do Método de Descartes, apóia-se nas Regulae philosophandi de Newton para resolver o problema central de método.

Não é vida dedução pura, mas a da análise. Newton não começa por definir certos princípios, certos conceitos e axiomas universais, a fim de percorrer passo a passo, por meio de raciocínios abstratos, o caminho que leva ao conhecimento do particular. É na direção inversa que se move seu pensamento: o verdadeiro método da física jamais poderá consistir em partir de algum dado arbitrariamente admitido, de uma “hipótese”. O newtonismo não pressupõe, como objeto e condição inviolável da investigação, senão a ordem e a legalidade perfeita da realidade empírica. Entretanto, essa legalidade significa que os fatos, como tais, não são um material simples, uma incoerente massa de detalhes, mas que se pode demonstrar, nos fatos e pelos fatos, a existência de uma forma que os penetra e os une. Essa forma apresenta-se como matematicamente determinada, estruturada e articulada segundo o número e a medida. Mas é justamente essa articulação que não pode ser objeto de antecipação conceptual, ela deve ser encontrada e demonstrada nos fatos. A compreensão da ordem e da legalidade empíricas.

Paradigma metódico da física newtoniana foi generalizada, como o instrumento necessário e indispensável de todo o pensamento em geral. Não cabe afirmar que há uma disputa entre a metafísica e a física newtoniana. Ao contrário, o verdadeiro método da metafísica harmoniza-se, basicamente, com o que foi introduzido por Newton na física. Não se busque, portanto, a ordem, a legalidade, a “razão”, como uma regra “anterior” aos fenômenos, concebível e exprimível e a priori: que se demonstre a razão nos próprios fenômenos como a forma de sua ligação interna e de seu encadeamento imanente (independe de uma ação exterior). Contudo é preciso reconhecer o limite de suas faculdades, e fazer uso do método analítico. “Mas temos que dizer: façamos exatamente a análise das coisas. Sempre que nos é impossível ter a ajuda da bússola da matemática e do farol da experiência e da física para guiar o nosso rumo, é mais do que certo que não –podemos avançar um só passo” (Voltaire, Tratado de metafísica, cap. V, citado por Cassirer cap. 1).

Outra diferença específica da mudança de significação característica que a idéia de razão sofreu em relação ao pensamento do século XVII.
Para os grandes sistemas metafísicos seiscentistas, para Descartes e Malebranche, para Spinoza e Leibniz, a razão é a região das “verdades eternas”, essas verdades que são comuns ao espírito humano e ao espírito divino. O que conhecemos e do que nos apercebemos à luz da razão é “em Deus”. Cada ato da razão nos assegura de participar da essência divina.

O Século XVIII confere um sentido mais modesto. Deixou de ser a soma de idéias inata, anterior a toda experiência, que nos revela a essência absoluta das coisas. A razão define-se menos como uma possessão (posse atribuída pelo poder divino) do que uma aquisição (um esforço terreno para se chegar a verdade, humano, por isso falível). Uma energia, uma força que só pode ser plenamente concebida em sua ação e em seus efeitos. A razão é uma operação para assegurar-se da verdade. A razão desmonta as crenças baseadas no testemunho da revelação, da tradição, da autoridade; só descansa depois que desmontou peça por peça, até seus últimos elementos e seus últimos motivos. Depois impõe uma tarefa construtiva. É mediante esse duplo movimento intelectual que a idéia de razão se concretiza plenamente: não como a idéia de um ser, mas como a de um fazer.

* Diversos domínio da cultura do século XVIII:

- sede de saber inscrita na substância da alma humana. O retorno da libido sciendi, a dogmática teológica tinha banido, era uma vergonha, um orgulho intelectual (até hoje, temos um pouco disso disseminado na nossa sociedade, das pessoas que pretende o caminho do saber. Na nossa sociedade o intelectual é desvalorizado, a favor do homem de posse), o século XVIII colocou como uma qualidade necessária da alma e como tal restabelecida em seus direitos naturais.

- Vamos ver na Enciclopédia francesa, retratada como o “Espírito do século XVIII”[1]. Este empreendimento polêmico levou Diderot a ser convidado pelas autoridades políticas e religiosas, amiúde, a passar algum tempo na prisão. Evento que não desanimou o seu espírito insurgente. A Enciclopédia negava os princípios religiosos e políticos da época, em busca de uma racionalidade do mundo, permitindo, assim, uma visão crítica e inovadora. que não se pretendia ser um acervo do conhecimento, mas provocar um novo modo de pensar.

-Tinham uma empolgação uma efervescência geral pelas forças em ação. Desejavam compreender e domina esta força. Assim, o primeiro passo foi determinar os limites do espírito matemático e o do espírito filosófico (determinação que não surgiu sem ambigüidades).
* Algumas aplicações do análise do espírito geométrico, antes aplicada ao espírito do número e da grandeza:

A análise no plano do psíquico e no plano social. Um método da relação analítica e da reconstrução sintética.

Dentro do plano psíquico este método parece incompatível pela diversidade de formas do conteúdo psíquico. Só que esta heterogeneidade é apenas aparente para o espírito do século XVIII. É tarefa da ciência trazer estes aspectos que escapam a um contado imediato. As formas psíquicas são passadas para as fontes e princípios. O grande mestre e guia da psicologia do Século XVIII é Locke, vai expor duas fontes diferentes de vida mental: sensação e reflexão. A par dos simples dados da visão, da audição, do tato, da cinestesia, do paladar e do olfato, Locke deixou subsistir, como totalidades originais e irredutíveis, as diversas classes de atividades psíquicas: a atenção e a comparação, o discernimento e a combinação, o desejo e a volição.

A existência do Estado e da sociedade, realidade que nasce o homem, e que exige que se adapte as novas formas já existentes. A faculdade de pensar, assim que despertada no homem, fá-lo erguer-se incansavelmente contra essa espécie de realidade. A sociedade é intimida a comparecer perante o tribunal da razão.
A vontade geral do Estado como se fosse constituída de vontades particulares, como se fosse nascida da união. Divisão em partes componentes (obedecendo ao mesmo método). Por metáfora o Estado passa a ser considerado um corpo, para que possa ser aplicado as mesmas regras que se aplica ao conhecimento da natureza dos corpos físicos.

Então, o caminho pelo qual o pensamento deve enveredar conduz, portanto, seja em física como em psicologia e em política, do particular para o geral, processo que, no entanto, seria impossível se todo o particular como tal não estivesse já submetido a uma regra universal.


Sérgio Paulo Rouanet.

O Iluminismo seria uma tendência que atravessa as épocas, não limitada a nenhum período específico, que se caracteriza por uma atitude racional e crítica. Ela combate o mito e o poder, usando a razão como instrumento de dissolução do existente e de construção de uma nova realidade.



Referência:

CASSIRRER, Ernest. A Filosofia do Iluminismo. Tradução Álvaro Cabral. 2ª edição. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 1994.
[1] GUINSBURG, J. A Filosofia de Diderot. Introdução, seleção e tradução de textos e notas por J.Guinsburg. São Paulo: Ed.Cultrix, 1966.

Felicidade, dor e liberdade como elementos do homem e da moral em Rousseau.

FELICIDADE, DOR E LIBERDADE COMO ELEMENTOS
DO HOMEM E DA MORAL EM ROUSSEAU
Victor Brandão Ribeiro


“Junto a nós, existem mil lugares por onde a criança pode sair de seu lugar; cabe aos que educam mantê-la nele, e esta não é uma tarefa fácil. Ela não deve ser nem um animal, nem um homem, e sim uma criança” (Rousseau)



A pretensão deste trabalho é que possamos relacionar o conceito de felicidade ao de dor e liberdade como norteadores do homem e da moral; mais precisamente, um estudo do Livro II do Emílio, quando estas questões são tratadas já como propostas pedagógicas da segunda fase da vida. De forma menos enfática, abordaremos como a lei civil contribuiria como instrumento de liberdade e representaria a felicidade do homem nas suas relações. Outro fator importante é o uso adequado da razão, como não pode deixar de considerar, tratando do iluminismo. Neste estudo é a razão na segunda fase da vida segundo Rousseau, a fim de apreender os conceitos de dor, liberdade e felicidade, os quais as crianças o adquirem na vida, nas relações com o mundo e com as pessoas; e não simplesmente nas palavras, apesar desta ter sua função nos controles dos impulsos.

A felicidade merece destaque na obra de Rousseau, na qual a expõe sobre múltiplos aspectos, uma delas é como uma eterna busca, presente na obra Les Rêveries du Promeneur Solitaire. Não é possível falar de uma única felicidade em Rousseau, mas sim, da felicidade da criança, do homem, do sábio, do povo, e tantas outras. Não cabe aqui especificá-las, mas optamos por uma proposta de conceito mais ampla que a relacione à idéia de dor e liberdade e coadune para uma vida moral. Independente dos tipos de felicidade, um sentimento se repete na obra de Rousseau, já sinalizada no final do Primeiro Discurso, “de que serve procurar a nossa felicidade na opinião dos outros, se podemos encontrá-la em nós mesmos!” (Primeiro Discurso, 2006a, p.17).

1. A Dor Moral



Rousseau crer piamente no aperfeiçoamento do ser humano, estabelecido por uma educação desde os primeiros dias de vida, que transformará o indivíduo e a humanidade. Educação que modifica crenças e modo de condutas que interferem no sentimento, e no desenvolvimento futuro da razão. Diante disso, preocupou-se com algo que poderia ficar restrito aos livros de medicina – a dor. Contudo, com a sua sensibilidade de espírito, atribuiu uma importância moral àquilo que poderia ser uma simples e incomoda sensação. A expressão de dor de uma criança é percebida menos pelas condições físicas do que pelas psicológicas, “...o medo que atormenta quando nos ferimos” (Emílio, p.70). Rousseau não pretende fazer um tratado médico sobre o conceito de dor, mas sim, justificá-la como instrumento de aprendizado para o indivíduo transitar para uma vida social. E sinaliza algo importante, as sensações são repletas de significado, atribuído através do processo de aprendizagem, ou pode-se dizer simplesmente, através da vida.

A criança suportando as dores leves, que são a do corpo, aprendera a suporta as grandes, que são as da alma. E assim estabelece o primeiro ensinamento “sofrer é a primeira coisa que ele deverá aprender, e a que ele terá maior necessidade de saber” (Emílio, p.70). Vivemos numa sociedade que ser feliz, ter sucesso e ser o melhor são nossos primeiros ensinamentos, e esquecem que para alcançar todos estes, precisamos aprender a sofrer. Dito de forma mais sutil, ampliar nossos limites de frustração. A lógica de Rousseau está ancorada é que quanto menor o sofrimento mais próximo da felicidade, mas para menos sofrer precisaríamos de tolerância diante das dificuldades ou dores da vida. Rousseau, por exemplo, trata que as quedas de uma criança, não ameaçam sua existência; além do mais, os machucados são compensados pelo bem-estar da liberdade e autonomia. Se uma criança caiu foi porque corria sem amarras. Cair e aprender a levantar é como o corpo prepara alma. O corpo para Rousseau será uma metáfora da vida.

A criança que se comunica através da fala esta na segunda fase da vida, segundo a classificação de Rousseau, a fala é um marco desta fase. Apresenta a importância da linguagem como contenção das expressões mais naturais, como o grito e o choro. Um importante aspecto pôde ser deduzido desta relação entre linguagem verbal e não-verbal: a fala como uma substituta da expressão motora, transição que Rousseau reconhece como progresso natural, se assim não proceder, é por deficiência da relação entre o educador e a criança[1]. A transição da linguagem corporal a verbal se faz necessária, pois evitará mimos provenientes de um convívio social. “Se a criança for delicada, sensível, e naturalmente se puser a gritar por nada, dando gritos inúteis e sem conseqüência, logo secarei essa fonte” (Emílio, p.69). O que Rousseau coloca em questão é o choro como instrumento de socialização ou comunicação na primeira fase; mas já não tem o mesmo efeito com o recurso da fala, se assim proceder passa a ser vícios sociais, deixando de ser uma expressão natural de dor ou necessidade.

A criança deve conhecer a dor, “eu ficaria muito aborrecido se ele nunca se ferisse e crescesse sem conhecer a dor” (Emílio, p.70), ao se referir a Emílio, seu personagem fictício da obra homônima. Contudo, o choro não é uma expressão adequada, enfraquece o espírito, a não ser diante de verdadeiras dores. O que está em pauta, neste momento, para a constituição do sujeito, é o saber sofrer, ser menos sensível, ou apenas aprender a sentir a força que a necessidade impõe, nem mais, nem menos. E assim se aprende não com regras, mas vivendo. A primeira das lições é aprendida sem constrangimentos, sem restrições, sem consciência, só com aquilo que a natureza lhe imputa, as leves dores do corpo. Sem constrangimentos e sem consciência, pois para a criança o que prevalece é o prazer de viver[2]. A liberdade é sentida como o livre gozo.

Ao contrário, do que muitos pensam, seu projeto não preza pelo sofrimento e dor, mas por saborear a vida. “Assim que eles puderem sentir o prazer de existir, fazei com que o gozem” (Emílio, p.73). A idéia de multiplicar as dores na infância é porque têm conseqüências menos nefastas no aprendizado enquanto criança do que virem a se repetir na fase adulta. As dores de um homem com espírito fraco são muito maiores que as dores de uma criança. Então, desde criança deve-se fortalecer o espírito, e não torná-lo débil. Mas a única ação que recai no ensinamento da criança é a própria natureza, é deixá-la livre e aprender com as próprias quedas. “Nossas mania professoral e pedantesca é de sempre ensinar às crianças o que aprenderiam muito melhor por si mesmas” (Emílio, p.71).


2. Felicidade e Liberdade: o menor sofrimento e a menor dependência.

Rousseau critica as pedagogias, e este é um importante ponto de reflexão: “sacrifica o presente para o futuro incerto” (Emílio, p.72). Há referências que a taxa de imortalidade infantil era alta na época, o que leva a crer que se referia a este aspecto do “futuro incerto”. Como também, pode ser analisada sobre um aspecto menos materialista, uma importante crítica que forma o homem para o futuro sacrificando seu presente. A sensação é de um vazio, de um homem que não está aqui e nunca chegará - “sempre considera o presente como nada e, perseguindo sem tréguas um futuro que foge à medida que avançamos, de tanto nos levar para onde não estamos, leva-nos para onde não estaremos nunca” (Emílio, p.73). E arremata a idéia colocando que os adultos estão preocupados em ajustar as más inclinações de uma criança, sem se procurar saber se as más inclinações não provêm de seus ensinamentos e não do desenvolvimento natural. Outra referência importante sobre o que é felicidade, é um fato presente, e não uma expectativa futura.

O conceito de felicidade de Rousseau é extremamente importante, pois é a sua compreensão que liga o primeiro ensinamento da criança – o saber sofrer – ao homem e ao cidadão. Dentro de uma visão mais ampla, uma felicidade negativa: “O mais feliz é o que sente menos sofrimento; o mais miserável é que sente menos prazeres” (Emílio, p.74). Rousseau relaciona o conceito de dor ao de felicidade, num paralelo entre a criança e o adulto. Enquanto criança ensina-se a suportar às pequenas dores, para sofrer menos enquanto adulto. O adulto equilibra os desejos, que supõe penosas privações às nossas faculdades. Não cabe ao homem diminuir os desejos ou ampliar as faculdades, mas “diminuir o excesso de desejo relativamente às faculdades” (Emílio, p.74). Só é possível avaliar o desejo a partir do quanto posso alcançá-lo. A partir de tal tarefa pode-se avaliar a inibição dos desejos, um exercício que deve ser praticado na infância, para que seja mais leve na fase adulta e uma autodeterminação, e não vi da obediência a outro.
O homem para deixar sua alma tranqüila deve equilibrar o poder e o desejo, esta possibilidade só é possível olhando para si. Este é o caminho da felicidade, muito próximo das considerações que Silva destacou sobre a felicidade:
“...uma certeza interior que possa imediatamente assegurar a conduta cotidiana e garantir, apesar da incompreensão e das perseguições, o homem de paz e de serenidade que ele sempre aspirou” (Silva, p.155).

O homem civil que estabelece o contrato precisa saber perder e aceitar os limites do mundo real e do outro, para que possa agir em interesse comum. Não podemos ampliar o mundo real, diz Rousseau, reduzamos o mundo imaginário. Entendam por isso, se não podemos mudar o mundo, mudemos a nós próprio. Há uma relação entre as coisas real – exterior-, e um “eu” – interior-. Reis (2005, p.141) explora este assunto e nos esclarece:
“A metáfora espacial presta-se a muitos usos, a analogia pode desdobrar-se em várias outras. Uma delas é a de exploração: o indivíduo representado como um “eu”, ocupando-se de si mesmo, explora seu espaço interior, à maneira de um excursionista. Mas o imaginário do espaço também abriga as imagens de ocultação, de obstáculo: não é raro que o indivíduo, em suas excursões pelo espaço interior, depare-se com abismos, profundezas, barreiras intransponíveis”.


Rousseau, filósofo estrangeiro, revela sobre seus pares e sobre si: “ Aí estão, estrangeiros, desconhecidos, nulos em definitivo para mim, porque assim eles o querem. Mas eu, separado deles e de tudo, Quem sou? Isto é o que me falta descobrir” (Premiére promenade, 2006c p.1). É como existisse um ser além da vida moral, e revela logo adiante: “O hábito de entrar em mim próprio, me fez perder o sentimento e quase a lembrança do mal, aprendi ainda pela minha própria experiência que a fonte da felicidade está em nós” (Seconde promenade, 2006c p.5).

Lévi-Strauss abordou este “quem sou?” como um “Eu” epistemológico no qual Rousseau expressa que existe um outro de que se pensa em mim, e que me faz duvidar em primeiro lugar de que sou eu o que pensa. Esta tarefa só é possível, pois a resposta a esta pergunta não seria tão somente do cogito cartesiano, mas do ser que se sente. Assim expresso no Emílio: “Para nós, existir é sentir; nossa sensibilidade é incontestavelmente anterior à nossa inteligência, e tivemos sentimentos antes de ter idéias” (Emílio, p.410). Rousseau se desfaz de um “eu” tão certo de si, e o considera objeto estranho, não familiar, passível, como qualquer outro objeto, de pesquisa[3].



3. A Liberdade a serviço da Felicidade



A sociedade enfraquece o homem por retirá-lo o direito sobre sua força. E ser forte é viver e se contentar com o que se é, diz Rousseau (Emílio, p.81). A sociedade torna o homem fraco porque o faz se sentir maior que a humanidade. O homem forte é o homem livre, e a liberdade é limitada pela força da natureza, “o homem verdadeiramente livre só quer o que pode e faz o que lhe agrada” (Emílio, p.81). Ou seja, no momento que ele precisa de outro, seja da opinião ou do braço, não se bastando por si próprio, será um homem fraco, escravo e infeliz, pois não estará em equilíbrio: potência e necessidade. A liberdade é o primeiro de todos os bens. Se a criança é fraca em comparação ao homem não é pela força física ou absoluta, mas pelo seu estado de dependência, mas esta é compensada ou suprida pela afetividade entre os pais e as crianças.

Entende que antes que as instituições humanas alterem as inclinações naturais, a “felicidade da criança e dos homens consiste no uso de sua liberdade” (Emílio, p.82). Ser feliz, agora, é ser livre. A criança terá uma liberdade imperfeita, pois vive numa condição de fraqueza ou dependência, assim como o homem no estado civil. Assim, compreende-se que o júbilo da liberdade infantil, ou a ignorância feliz da criança do seu estado de dependência, é para compensar seu estado de fraqueza. Satiricamente Rousseau conclui “éramos feitos para sermos homens, as leis e a sociedade voltaram a mergulhar-nos na infância” (Emílio, p.82). O que seria um estado de dependência e ignorância feliz.

A falta moral é proveniente do estado de dependência entre os homens. A forma de remediar este mal será substituir o homem pela lei, e a vontade do rei, pela vontade particular. As leis surgem como instrumento de liberdade, é a dependência das coisas. Rousseau distinguiu dois tipos de dependências “a das coisas, que é da natureza, e a dos homens, que é da sociedade” (Emílio, p.82). A dependência que se estabelece entre os homens, e não entre as coisas, não prejudica a liberdade ou cria vícios, pois estas não têm nenhuma moralidade. O que leva a crer, que a lei civil para o homem tem o mesmo valor imperativo da lei natural para criança. Exercitar e sensibilizar a criança na lei da natureza, estará preparando o homem para a lei civil, exercícios para o estado de liberdade, humanidade e comiseração. Rousseau compreende que o “homem que não conhecesse a dor não conheceria nem a ternura da humanidade, nem a doçura da comiseração” (Emílio, p.86). Agora, relaciona-se o conceito de dor e liberdade ao de vida moral. O que pode ser questionado que a lei civil para ser tão perfeita e justa quanto a lei natural deveria ser feita por homens perfeitos e justos, e ainda não sei como se resolve este problema na obra de Rousseau.

Contudo, não é caminho da razão que deve dirigi a criança. Educar uma criança pela razão é começar pelo fim. Se as crianças ouvissem a razão, não precisariam ser educadas, educá-la pela palavra é corrompê-la prematuramente. Dar ao homem o lugar de homem, e a criança o de criança, diz Rousseau. A preocupação é não fazer uso inadequado da razão, e empregá-la num momento oportuno. “Fazei melhor do que isso: sede razoável e não raciocineis com vosso aluno” (Emílio, p.97).

As idéias das crianças deveriam se deter nas sensações. Rousseau conserva a razão para o momento adequado na vida humana, ou a maturidade racional que vem com o tempo. E estabelece o conceito de infância que perdura até os dias atuais, “a infância tem maneiras de ver, de pensar e de sentir que lhe são próprias” (Emílio, p.91). A filósofo genebrino fez perceber que a infância é sempre, não foi algo, e não é mais. Não que esta idade seja desprovida de razão, mas adquire “toda razão de sua idade, ele foi tão feliz e livre quanto lhe permitia sua constituição” (Emílio, p.208). Desta forma, a razão desta idade não é dos grandes discursos e perguntas, “as perguntas repetidas demais aborrecem e cansam a todos, e com maior razão as crianças”[4] (Emílio, p.209).

Pode-ser perceber que o conceito de felicidade em Rousseau passa por muitas definições: ao de prazer, ao da menor dor e ao de liberdade. Estes múltiplos aspectos não condizem uma contradição, mas estão inter-relacionados, preparando o homem para a sua condição inexorável, ser o que é, com a sensibilidade dos sentimentos e o bom uso da razão. Tentamos demonstrar que Rousseau se esforça por atribuir ao homem, força de espírito, prazer e liberdade como condições do homem universal, e como elementos que podem ser úteis ao homem civil. Longe de finalizar este assunto, espero despertar o interesse por conceitos que movem a alma como a esperança na felicidade.



















REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


LÉVI-STRAUSS, Claude. Jean-Jacques Rousseau, fundador de lãs ciências Del hombre. In: Sazbón, José (org.). Presencia de Rousseau. Colección Teoria e investigación en las ciencias del hombre. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 1972.

REIS, Cláudio e Araujo. Unidade e liberdade: o indivíduo segundo Jean-Jacques Rousseau. Brasília: Editora Universidade de Brasília: Finatec, 2005.


ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio, ou, Da educação. Tradução: Roberto Leal Ferreira. – 3º Ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2004. (Paidéia).

___________________. Les Rêveries du Promeneur Solitaire. Fonte Gallica, Bibliothéque Numérique de la Bibliothéque Nationale de France.
Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=7295. Acessado em Junho. 2006

SILVA, Genildo Ferreira da. Rousseau e o Fundamento da Moral: entre a razão e religião. São Paulo, Campinas: Unicamp, 2004. (Tese de Doutorado)


[1] Tema posteriormente explorado por pensadores da área de educação como Henry Wallom, Jean Piaget, Vigostki
[2] Rousseau, sobre este assunto, explicitamente recorre a Platão na proposta de educação na República: “Ficais alarmados por vê-la consumir seus primeiros anos sem nada fazer. Como! Não é nada ser feliz? Não é nada saltar, brincar, correr o dia todo? Em toda a sua vida, nunca estará tão ocupada. Platão, em sua República, considerada tão austera, só educa as crianças em festas, jogos, canções, passatempos; dir-se-ia que ele terminou quando lhes ensinou a se divertirem bem” (Emílio, p.118).
[3] Este espaço interior tão explorado por Rousseau é originário da tradição Iluminista, como bem esclarece Reis (2005, p.151) apresentado as fontes de Rousseau. “A imaginação do espaço do interior em Rousseau, portanto, é alimentada por essas duas fontes principais: a psicologia lockeana, de um lado, enriquecida por todas as contribuições posteriores; e, de outro, a tradição dos moralistas com sua imagem predileta do coração. É essa, (...) a imagem mais comum em Rousseau para designar a interioridade. O termo “coração” conta quase 2.500 ocorrências em toda obra.

[4] Seria uma crítica a maiêutica Socrática? Recurso tão utilizando no seu Primeiro Discurso.

Saturday, September 01, 2007

Bufão... o palhaço do Brasil!






O bufão é aquele que critica aspectos ou condutas sociais que lhe parecem falsas, hipócritas e ridículas. E ridiculariza este outro falso e as condutas sociais com o uso do seu corpo e pantomima. Ridiculariza a si próprio na representação de todos, esperando com isso o clareamento ou mudanças das relações.
Na peça Bufão – o palhaço do Brasil, o nome já apresenta uma aparente ambigüidade entre o palhaço e o bufão, que ele era um bufão que se fez palhaço, o que é fascinante e um ganho para proposta artística, pois não faz uso do ridículo ou não ridiculariza alguma personagem social. Sem o ridicularizar faltaria o bufão, mas este se apresenta quando ridiculariza a solidão humana, a rotina e o cotidiano. E eleva, sobremaneira, o indivíduo enquanto ser de alteridade. Valoriza a atenção, o cuidado com o outro, na sua forma mais imediata de interação e contato. O nosso Bufão valoriza o toque, o olhar, o gesto (ação) amoroso (a) - a linguagem dominante do espetáculo -, o que faz sentido e se demonstra um desafio: um monólogo mudo para criança, que os adultos adoram, que fala do cuidar de si e do outro.
E no mundo de barulhos, o Bufão propõe o silêncio para que se possa sentir. Propõe o silêncio para que se ouça o coração com o despertar do sol, e o anoitecer com a lua. Sol e lua são símbolos da peça, na qual aborda a sucessão temporal que todas as atividades mortais se realizam; ao mesmo tempo em que são oposições, entre o movimento e o repouso; apresenta-se como uma escolha entre despertar o amor e sossegar a agonia.

Várias Dores

Por que chamam Salvador de cidade da alegria, será que não percebem a leitura subliminar, “salve a dor”, carnaval quem diga!

Por que quando perguntam: onde estar a cerveja? E respondem gritando: no congeladooooooor! Congela a dor? Quando for cerveja vamos combinar, será: no congela a alegria!

Semeador, aquele que semeia a dor? E quem semeia a dor colhe tempestade, já dizia o poeta. Vamos combinar, quando eu estiver no campo semeando, me chamem de semeamor.

Eu nunca gostei de orador, é sempre muito chato, não precisa nem dizer o porquê. Eu fui orador da minha turma, e fiz um discurso que ninguém gostou, não foi culpa minha, orador é ora a dor.

Odor só deveria ser para cheiros desagradáveis.

A dor do parto é a dor que fica
E amor no parto já foi um dia amor de...

Assinado (ô): Abdicador