Sunday, August 12, 2007

Livre reflexões de alguma peça de Nelson Rodrigues

Este texto foi uma leiitura psicanalítica de algumas peças de Nelson Rodrigues, realizada por Martuscello. Não posso dizer que é a melhor ou pior, mas é uma tentativa, prefiro ver Nelson através dos arquétipos, mas vamos ao que o autor disse:

Cap. 2 A Mulher gosta de apanhar
O autor introduz com a introdução de um novo conceito: Falo sob a perspectiva feminina.
- A mãe “faz” com o filho um tipo de interação psicológica em que ele fica significando para ela aquele que a completa e a preenche totalmente e que lhe dá a sensação de que nada falta.
- Lacan (um dos teóricos mais importantes da psicanálise), nesse momento o bebê passa a ser o falo que falta à mãe e esta se sente a mãe fálica por possuí-lo. É a então famosa frase de Freud “a mulher tem inveja do pênis”. Ora, mas o que vem a ser o FALO.
- Lacan dirá "o Falo não é representável". A interpretação tem como ponto de partida o complexo de édipo e a variação de seus tempos em função de como os personagens ficam situados em relação ao falo.
1º momento – o menino é o falo da mãe sem o saber. A mãe fálica.
2º momento – a mãe e o filho deixam de ser e ter o falo, e passa a ser o pai.
3º momento – o falo fica inserido na cultura e além de qualquer pessoa.

Este pai, este interdito do amor anterior mãe-filho, se instaura no inconsciente e passa a representar a lei interditante. Pai simbólico que fez a defusão do amor materno e instaurou o filho na cultura, pois o menino já introjetado a lei interditante aceitará as regras da sociedade e o que ela regulamenta. Ele obedece aquilo que é social.
Não precisa existir um pai real, são representações simbólicas.
Quando isso não acontece, o que ocorre? A mulher permanece sendo a mãe fálica, que exclui o homem como falo e, logo, exclui o falo como localizado na instância cultural que a submete. Então o falo vai ser sempre o filho. Não necessariamente, qualquer coisa que complete o sentido de lhe garantir plenitude e auto-suficiência narcisica equivalente à que ela obtém na relação com o filho.
Quanto menos a mulher aceite a inclusão do homem em sua relação com objeto tornado falo, tem que haver uma presença muito mais marcante do pai real para se tornar pai simbólico. A insistência da mulher neste processo de mulher fálica obviamente exlclui o homem, retira o seu falo. Isto obriga a exercer com força ou violência o pai interditor para recuperar seu poder de falo (não é incomum mulheres que apanham do marido sustentarem a família). Só que isto não justifica e nem explica todas as possibilidades psicológicas e sociais de violência a mulher.

Dorotéia
Em Dorotéia, Martuscello considera o jarro pelo sentimento de culpa de Dorotéia. Alguém saberia responder por que um jarro é sentimento de culpa, está no texto. O autor defende que o jarro é símbolo fálico, porque seria uma forma de perseguidor que lembra seu passado sexual. Na época que eu vi a peça de Roberto Salles, não entendia a presença de um ator nu. Tem muitas sutilezas do texto, em formas de imagem, que o ego não consegue captar. A interpretação que fiz, e que é uma das possibilidades para explorar a imagem é que o jarro representava o útero, a sexualidade, o feminino negado, pois negando o homem, estaria negando a si própria como mulher. Então, interpretações que se completam, naquela idéia dos pares de opostos. Se colocasse uma mulher nua, ou seja o extremo oposto, representaria a mesma idéia inicial de Roberto, de homem nu.
As mulheres de Dorotéia são obcecadas pelo sexo. O antagonismo desejo/irrupções está presente em todas, levando a satisfação sexual a fazer irrupções inesperadas e imprevisíveis.

Leituras arquetípicas
O nome das Dores (referência Nossa Senhora das Dores – que é a dor da separação do filho, Jesus. Não permitir a separação com o filho, ou colocar sob a condição fálica é do que estamos tratando). De forma muito sutil ele coloca laico o que é sagrado, ele transforma em alma aquilo que é espírito. Ele faz uma inversão de extrema importância psicológica, você não alcança o pico sem passar pelo vale de almas, ou você não alcança o lado espiritual sem prestar atenção as dores da alma, é o que Nelson de forma intuitiva realiza do início ao fim de sua obra.
Dorotéia e as viúvas são mulheres martirizadas pela culpa trazida pelo sexo, a punição e o castigo são o destino inexorável. O super-ego feroz, que impõe as leis da sociedade, não recua diante de nada. A morte do filho representou um aviso. Este suposto aviso proveio da exigência do super-ego, que a fez perceber que deveria sair daquele tipo de vida e se submeter a uma série de infortúnios para ingressar na família. A mulher acatando o rigor super-egóico e submetendo voluntariamente à repressão. O sentimento moral de culpa e de necessidade expiatória é comum a mulher no funcionamento emocional. Na peça Dorotéia não tem homem batendo, isso é interessante, mas ela própria engendra a punição. Exigências que mulher saia da sua condição narcísica ou fálica. Nelson coloca Dorotéia falando: “...sou tão linda que, sozinha num quarto, seria amante de mim mesma...”, narcisismo feminino, excluindo o homem. O importante para a mulher na peça não é o amor pelo homem, é a posse do falo como objeto de prazer. O homem é invisível e representando apenas o pênis através das botas. Ela deseja o falo, mas se repreende com o martírio do corpo, muitas vezes isso ocorre com o encontro com homens agressivos.

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