Sunday, August 12, 2007

Augusto Boal é um homem fabuloso.




Augusto Boal é um homem fabuloso. Ele disse justamente aquilo que por muito tempo eu queria dizer e fazer, mas não sabia o que era, Por quê? Porque no teatro, assim como em todos os setores de comunicação, vivemos idéias alienantes, estamos realizando determinado trabalho e não sabemos nem mesmo porque; não questionamos se é aquilo que desejamos e pudemos questionar?. Aí aparece um carinha para ajudar interpretar determinado texto, todos fingem que entendem, aquela interpretação tosca, superficial e vazia. “Mas não ?...” dizem eles, “...estamos falando de algo sério, nosso teatro é crítico.” Ninguém, contudo, pará para perguntar: para quem é este teatro ? para que serve ? que público vai atingir ? vai ter repercussão? Pouca importa. Eles foram pagos por esse hipócrita sistema político-capitalista, que apenas desejam uma peça que projete o nome de sua empresa; nada que ofenda, nada que faça pensar, nada de grandes emulações sociais, e o pior nada de grande mudanças pessoais, nem para o espectador, muito menos para o ator. É o teatro de fantoche com carne e osso. E quem é o operador dessses bonecos, certamente que é a “mão-invisível”, tinha que ser invisível, assim não podemos cortá-la.
Então, eu nos meus afazeres cotidianos, deparo-me com “Auguto Boal exilado”. Quem é Augusto Boal ?Mas por que exilado ? Depois eu digo, o interessante é a sua vida, a sua obra, o seu projeto, ou melhor, o projeto dos outros, daquele que não tem voz, sem canais para se expressar como ser humano. A “mão-invisível” não é dele, sendo ele próprio invisível como ser humano. O que esse homem faz é o Teatro do Oprimido, “método conscientizador adotado já em setenta países mas ignorado neste Brasil”, detetor de uma línguagem, sem ideologias ou grandes mensagens milagrosas, não procuram interpretar a realidade, mas procura mostrá-la. Não teria como melhor exemplificar, descrevendo um trecho da entrevista dada a revista Caros Amigos, que me sensibilizou para um história tão simples sem perder a sinceridade e profundidade, vamos a ela: Oprimido é que em toda relação devia ter diálogo.(...)Mas todo diálogo se converte em monólogo(...). Então, quando você é despossuído do direito de falar, do direito de ter sua personalidade, do direito de ser, isso é oprimido. Ano passado, a gente tinha vários grupos, e eu vivo dizendo que eles são teatro mesmo que não façam teatro, porque ser teatro é trazer em você o ator. Porque você age, então você é um ator.(...) Aí, um dia, eles chegaram para mim e disseram: “Escuta, você vive falando pra gente que a gente faz teatro, que a gente é teatro, mas a gente só representa na rua, no Aterro do Flamengo, e nunca dentro de um teatro. Então vamos fazer dentro de um teatro.” Eles insistiram tanto, então vamos fazer. O pessoal de favela, empregadas domésticas, grupos em geral, Temáticos ou de comunidade. Eles queriam que a pessoa, mesmo que não tivesse dinheiro, fosse na bilheteria pegar o ingresso. Cumprir o ritual. (...). No domingo, último dia, as empregadas domésticas se apresentaram. Um sucesso, todo mundo gostou e tal, vieram me dizer que uma delas estava chorando.(...) Então ela me contou uma coisa maravilhosa. Falou que era empregada doméstica. E, como empregada doméstica, era ensinada a ser invísivel.(...) A comida é feita na cozinha, a comida vem pra mesa, os pratos vão embora, são lavados, quem é que fez? A empregada invisível, quer dizer, ela não existe. E ela tem que ser muda e surda porque, se num jantar tem pessoas conversando, ela não pode dizer: “Não, não concordo com você. Eu acho que...”. Então ela disse: ...fiquei muito emocionada, porque na platéia estava a família, para quem eu trabalho, no escuro. Me vendo e me ouvindo... foi a primeira vez que eles viram meu corpo, ouviram a minha voz e entederam o que eu penso...” (...) “...quando voltei pro camarim olhei para o espelho e vi pela primeira vez uma mulher...antes eu olhava e via uma empregada doméstica”.
Comovente. Boal conclui da seguinte forma: “ ‘Mas Boal, ele transforma o mundo?’ Não; mas o fato de permitir que uma pessoa se olhe no espelho e veja uma mulher, um homem, cada um veja a si mesmo, isso já é um avanço extraordinário”. Augusto Boal, um filho de padeiro, que se formou em química, e escolheu o teatro como filosofia de vida, profissão, meio de sobrevivência físico-emocional. Que não quer falar, fazer nenhuma interpretação tosca, mas quer deixar que os outros falem. É isso que eu quero, estou feliz, esse é o caminho. Ah ! Por que é exilado? José Arbex Jr. Pergunta: “Você menciona o fato de que o teatro é conhecido em setenta países, lota os teatros estrangeiros, o centro de cultura francesa, etc., e no Brasil encontra essa coisa refratária ao teu método. Você se sente exilado dentro do Brasil ?”. Ele responde singelamente: “Ë isso mesmo”.

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