Sunday, December 09, 2007

Sentir os Lencóis Maranhenses

Acordamos bem cedo, às 6:30 da manhã, tomamos um café reforçado. O grupo se atrasou e começamos a caminhada às 08:00 horas, passamos um campo de vegetação rasteira, quando despontou na nossa frente um banco de areia, e ficávamos a ver um monte de areia branca. Pensando: por que está areia não se desfaz pela região. E contínuamos andando, o espírito infantil noss tomou diante da primeira lagoa. E nos lançamos em cambalhotas n'água. Andamos mais um período e uma outra lagoa um pouco maior, nas caminhadas passamos por outros andantes entre areias e aspirações de um mundo diferente que corre em direção ao nada e chega a lugar nenhum.

Olhando ao horizonte percebemos tudo tão perto...e quando nos lançamos ao ponto, ele se afasta junto com o horizonte. A noção que a terra é redonda é nos dada pela linha que contorna o horizonte que se faz em curva. Resolvi correr a praia e mais uma vez o horizonte me engana, aí em sua direção e a linha do mar se afastava, me contentei com as águas do rio que viajava até o mar. Bem longe, mar e rio certamente estavam em beijos penetrantes.

Nesta caminhada tive o pensamento que estamos neste mundo de férias, um belo dia voltaremos ao trabalho.

Especiais são os outros

Frase do dia 06 de janeiro: "um brilho intenso produz uma sombra intensa"James Hillman

No mesmo dia pensei: procuramos dar sentido as pequenas coisas da vida: se temos um amigo, desejamos que seja especial, se temos um amor, desejamos especial; um trabalho, assim por diante. Especiais são os outros, tudo aquilo que não somos nós, mas para nos fazermos especiais. Em algum momento a vida será especial? o que é Viver?

Poeta de mim

Não quero ser poeta do mundo
Quero ser poeta de mim
Mas se eu me chamasse raimundo
Eu não seria uma rima

Saturday, November 24, 2007

preciso revisar

Darlindo e Marcelo,

Trago aqui algumas questões de alguém que pouco dormiu depois da reunião de ontem, com um forte caráter epistemológico. Antes de tirar conclusões mais profundas da discussão, vou procurar ouvi-la de novo, mas o que estávamos tentando responder era a fonte a natureza, fontes e validade do conhecimento. Diante disso surge a pergunta a clássica, "O que é o conhecimento? Como nós o alcançamos?".
No meio das metralhadoras de idéias surgiram mais duas perguntas que eu fiz: Como produzimos conhecimento; e Onde produzimos conhecimento?
"Onde?" é a pergunta que mais me intriga por que nela envolve as pessoas participantes deste processo. O "onde" determina o momento exato que surgiu o conhecimento, e o que me parece, seria juntos na oficina com os agentes comunitários. A minha posição que este momento é efêmero, quase não existe, dizer que existe na nossa memória, ou anotações, ou sentimentos, não explica, nem valida o conhecimento. Eu digo isso porque os nossos orientadores se dirigiam aos ofícios impressos dos relatórios dando uma materialidade a fonte de conhecimento, que é duvidosa.
E quando falo duvidosa, parte de outro pressuposto da honestidade do investigador. Vamos por seqüência:
1. Relatórios das oficinas e com os Agentes – feitos das formas mais diversas, com estilos, atenções e registros diferentes;
\n\u003cspan\>2.\u003cspan\> \u003c/span\>\u003c/span\>\u003c/span\>\u003cspan\>Diário de campo – só realizado depois de muita insistência, apesar de estar como uma técnica a ser empregada na pesquisa-ação, mas ninguém a compreendia como tal.\n\u003c/span\>\u003c/p\>\n\u003cp style\u003d\"margin:0cm 0cm 0pt 36pt;text-indent:-18pt;text-align:justify\"\>\u003cspan\>\n\u003cspan\>3.\u003cspan\> \u003c/span\>\u003c/span\>\u003c/span\>\u003cspan\>Transcrições – não fizemos as gravações de forma adequada que garanta a confiabilidade do registro. Dificuldade de ouvir as gravações, muitas lacunas e fragmentos do discurso. \n\u003cspan\> \u003c/span\>\u003c/span\>\u003c/p\>\n\u003cp style\u003d\"margin:0cm 0cm 10pt 36pt;text-indent:-18pt;text-align:justify\"\>\u003cspan\>\n\u003cspan\>4.\u003cspan\> \u003c/span\>\u003c/span\>\u003c/span\>\u003cspan\>Observações de campo – apesar de ter insistido que esta fonte entrasse nas anotações de Darlindo, não foi algo reforçado, e nem é um registro que o grupo faça com critério.\n\u003c/span\>\u003c/p\>\n\u003cp style\u003d\"margin:0cm 0cm 10pt;text-align:justify\"\>\u003cspan\>\u003cspan\> \u003c/span\>\u003c/span\>\u003c/p\>\n\u003cp style\u003d\"margin:0cm 0cm 10pt;text-align:justify\"\>\u003cspan\>Esta é a minha avaliação sobre as fontes. Independente disso, estávamos abordando como iríamos tratar esta fonte de dados. E o que me ficou, é que no maior desafio é validar este conhecimento dentro de um trabalho coletivo. Qual a metodologia para se validar estas conclusões, resultados ou seja lá o que vocês querem dar o nome? Saímos com esta pergunta.\n\u003c/span\>\u003c/p\>\n\u003cp style\u003d\"margin:0cm 0cm 10pt;text-align:justify\"\>\u003cspan\>Chamei a atenção para as diferenças de linguagem dentro do processo de comunicação, onde se daria esta validação coletiva. Na qual foi exposto que deveríamos fazer um esforço de comunicação. Marcelo chegou a insinuar que eu poderia estar despontencializado os sujeitos críticos, construtores da sua própria realidade, e que isso era uma crença básica. Não me desfaço desta crença, apenas acho que ser construtor da própria realidade, é diferente de ser construtor de um material científico. O produto científico é o esforço de alcançar o inalcançável – a realidade. A realidade só se faz na ação, e o que estamos querendo fazer é um discurso da realidade. E o que vamos produzir, só nós podemos validar, porque só nós estivemos lá, naquele momento, é quase uma verdade inquestionável em termos do afeto e do momento. \n",1]
);
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2. Diário de campo – só realizado depois de muita insistência, apesar de estar como uma técnica a ser empregada na pesquisa-ação, mas ninguém a compreendia como tal.
3. Transcrições – não fizemos as gravações de forma adequada que garanta a confiabilidade do registro. Dificuldade de ouvir as gravações, muitas lacunas e fragmentos do discurso.
4. Observações de campo – apesar de ter insistido que esta fonte entrasse nas anotações de Darlindo, não foi algo reforçado, e nem é um registro que o grupo faça com critério.

Esta é a minha avaliação sobre as fontes. Independente disso, estávamos abordando como iríamos tratar esta fonte de dados. E o que me ficou, é que no maior desafio é validar este conhecimento dentro de um trabalho coletivo. Qual a metodologia para se validar estas conclusões, resultados ou seja lá o que vocês querem dar o nome? Saímos com esta pergunta.
Chamei a atenção para as diferenças de linguagem dentro do processo de comunicação, onde se daria esta validação coletiva. Na qual foi exposto que deveríamos fazer um esforço de comunicação. Marcelo chegou a insinuar que eu poderia estar despontencializado os sujeitos críticos, construtores da sua própria realidade, e que isso era uma crença básica. Não me desfaço desta crença, apenas acho que ser construtor da própria realidade, é diferente de ser construtor de um material científico. O produto científico é o esforço de alcançar o inalcançável – a realidade. A realidade só se faz na ação, e o que estamos querendo fazer é um discurso da realidade. E o que vamos produzir, só nós podemos validar, porque só nós estivemos lá, naquele momento, é quase uma verdade inquestionável em termos do afeto e do momento.
\u003c/p\>\n\u003cp style\u003d\"margin:0cm 0cm 10pt;text-align:justify\"\>\u003cspan\>Darlindo traz questões epistemológicas, dentro do seu referencial, que ficam mal resolvidas dentro do grupo. Eu acho que precisam ser retomadas com outra estratégia, ao invés de ouvirmos e julgarmos que compreendemos o dito, gostaria de ler algum material, e criticar o escrito, e saber de que forma posso acrescentá-lo no processo de análise. Por que toda vez que eu julgava ter compreendido Darlindo, ele dizia outra coisa, e o que eu dizia ou compreendia parecia ser muito distante do que ele queria dizer. Eu digo isso porque a mesma diferença de linguagem que existe entre os Agentes comunitários e nós residentes, parece que existe entre os senhores coordenadores e nós residentes. Parece ser uma ironia querermos construirmos algo de sentido coletivo, tão, tão coletivo. Tenho medo desta coletiva construção de sentido, ser uma falácia coletiva. E termos um trabalho sem os aportes teóricos necessários, sem a escrita adequada, sem este sentido que todos parecem entender bem, menos eu, e termos apenas o coletivo. Fico imaginando se este coletivo construir algo de uma força inconsciente tão destrutiva para ele, e estarmos tão envolvidos neste processo de validação e percebermos tarde de mais. E o que vamos dizer, "valeu a tentativa!". Qual é o referencial teórico, é o materialismo histórico, onde sujeito se encontra inscrito na sua história? Ou construções hermeuticas (sugiro que leiam um fragmento que coloquei no final desta mensagem) de um certo dado. Eu acho que sem esta clareza de referencial, não vou (digo por mim) conseguir dar mais passo nenhum de análise. \n\u003c/span\>\u003c/p\>\n\u003cp style\u003d\"margin:0cm 0cm 10pt;text-align:justify\"\>\u003cspan\>Sinto-me frágil e inseguro neste processo inteiro. Passou por mim até a vontade de provar que este sentido coletivo não existe, que tudo não passa de uma forma sutil de direcionamento de relações saber x poder e intencionalidades. E outra questão que coloco por fim, que é a minha confiança no grupo de \n\u003ci\>pesquisadores experts",1]
);
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Darlindo traz questões epistemológicas, dentro do seu referencial, que ficam mal resolvidas dentro do grupo. Eu acho que precisam ser retomadas com outra estratégia, ao invés de ouvirmos e julgarmos que compreendemos o dito, gostaria de ler algum material, e criticar o escrito, e saber de que forma posso acrescentá-lo no processo de análise. Por que toda vez que eu julgava ter compreendido Darlindo, ele dizia outra coisa, e o que eu dizia ou compreendia parecia ser muito distante do que ele queria dizer. Eu digo isso porque a mesma diferença de linguagem que existe entre os Agentes comunitários e nós residentes, parece que existe entre os senhores coordenadores e nós residentes. Parece ser uma ironia querermos construirmos algo de sentido coletivo, tão, tão coletivo. Tenho medo desta coletiva construção de sentido, ser uma falácia coletiva. E termos um trabalho sem os aportes teóricos necessários, sem a escrita adequada, sem este sentido que todos parecem entender bem, menos eu, e termos apenas o coletivo. Fico imaginando se este coletivo construir algo de uma força inconsciente tão destrutiva para ele, e estarmos tão envolvidos neste processo de validação e percebermos tarde de mais. E o que vamos dizer, "valeu a tentativa!". Qual é o referencial teórico, é o materialismo histórico, onde sujeito se encontra inscrito na sua história? Ou construções hermeuticas (sugiro que leiam um fragmento que coloquei no final desta mensagem) de um certo dado. Eu acho que sem esta clareza de referencial, não vou (digo por mim) conseguir dar mais passo nenhum de análise.
Sinto-me frágil e inseguro neste processo inteiro. Passou por mim até a vontade de provar que este sentido coletivo não existe, que tudo não passa de uma forma sutil de direcionamento de relações saber x poder e intencionalidades. E outra questão que coloco por fim, que é a minha confiança no grupo de pesquisadores experts
(como vocês gostam de falar). Como posso confiar num grupo que esqueceu o básico da pesquisa, que é a pergunta de pesquisa. E fiquei a noite acordado, me virando de um lado para o outro, chamando por Deus, e perguntando, "meu Deus, o que é que estou validando?". E eu pergunto a vocês: Os senhores partem de que pressuposto para falarem tanta coisa difícil que eu não entendo ou entendo muito pouco? Tive e estou numa forte crise existencial, e não vou fazer mais análise nenhuma, até sair dela. \n\u003c/span\>\u003c/p\>\u003c/div\>\u003c/blockquote\>\n\u003cdiv\> \u003c/div\>\n\u003cdiv\> \u003c/div\>\n\u003cdiv\>Fragmento do texto "Conflito Hermeneutico":\u003c/div\>\n\u003cdiv\> \u003c/div\>\n\u003cdiv\>\u003cspan style\u003d\"font-family:Verdana\"\>"Termo usado por Paul Ricoeur para caracterizar a dupla motivação — vontade de escuta, atitude de suspeita — que caracteriza a ambiguidade da hermenêutica contemporânea. P. Ricoeur parte do seguinte dado de facto: a relação da interpretação com a linguagem comporta, hoje, depois de Nietszche, Freud e Marx, uma dupla possibilidade que não pode ser esquecida e origina no âmbito da hermenêutica um conflito de interpretações. São fundamentalmente duas, e radicalmente opostas, as possibilidades de interpretação que hoje se fazem da função significativa da linguagem-símbolo: a hermenêutica da confiança acredita no poder prospectivo e revelador dos símbolos; a hermenêutica da suspeita, acentua o seu poder dissimulador, efectuando uma interpretação redutora e arqueológica de toda a simbólica humana. É, por isso, necessário enfrentar a complexidade de um tal conflito, em ordem a dilucidar a dimensão significativa ou hermenêutico-especulativa da própria linguagem falada pelos homens e falada aos homens. A explicitação do nó semântico de toda a hermenêutica, tarefa em que Ricoeur concentra, aliás, o núcleo da sua hermenêutica, exige que se reflicta, nomeadamente, sobre a ambiguidade ou paradoxo constitutivo da própria estrutura significativa da linguagem, que não é pura cópia mas funciona como símbolo. No símbolo, a dupla intencionalidade do sentido literal surge como um enigma que tanto pode significar um novo modo de referência como pura dissimulação."\n",1]
);
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(como vocês gostam de falar). Como posso confiar num grupo que esqueceu o básico da pesquisa, que é a pergunta de pesquisa. E fiquei a noite acordado, me virando de um lado para o outro, chamando por Deus, e perguntando, "meu Deus, o que é que estou validando?". E eu pergunto a vocês: Os senhores partem de que pressuposto para falarem tanta coisa difícil que eu não entendo ou entendo muito pouco? Tive e estou numa forte crise existencial, e não vou fazer mais análise nenhuma, até sair dela.


Fragmento do texto "Conflito Hermeneutico":

"Termo usado por Paul Ricoeur para caracterizar a dupla motivação — vontade de escuta, atitude de suspeita — que caracteriza a ambiguidade da hermenêutica contemporânea. P. Ricoeur parte do seguinte dado de facto: a relação da interpretação com a linguagem comporta, hoje, depois de Nietszche, Freud e Marx, uma dupla possibilidade que não pode ser esquecida e origina no âmbito da hermenêutica um conflito de interpretações. São fundamentalmente duas, e radicalmente opostas, as possibilidades de interpretação que hoje se fazem da função significativa da linguagem-símbolo: a hermenêutica da confiança acredita no poder prospectivo e revelador dos símbolos; a hermenêutica da suspeita, acentua o seu poder dissimulador, efectuando uma interpretação redutora e arqueológica de toda a simbólica humana. É, por isso, necessário enfrentar a complexidade de um tal conflito, em ordem a dilucidar a dimensão significativa ou hermenêutico-especulativa da própria linguagem falada pelos homens e falada aos homens. A explicitação do nó semântico de toda a hermenêutica, tarefa em que Ricoeur concentra, aliás, o núcleo da sua hermenêutica, exige que se reflicta, nomeadamente, sobre a ambiguidade ou paradoxo constitutivo da própria estrutura significativa da linguagem, que não é pura cópia mas funciona como símbolo. No símbolo, a dupla intencionalidade do sentido literal surge como um enigma que tanto pode significar um novo modo de referência como pura dissimulação."

Para Clô

O mais belo do rio é saber que ele corre
[em direção ao mar

Aomar

Amar e Omar resolveram se casar
[E nasceu Aomar
A família logo apelidou de aomarzinho
Por mais que ele replicasse,
- Eu sou homem, mãe.
E todos riam e repetiam:
Homem Aomar.
Mar não era brincadeira, pouco sorria.
Todos na cidade o conhecem somente por Mar,
Aomar fez valer sua voz altiva para todos.
Menino bravio e audaz,
quando alguém queria fazer uma grande aventura,
chamava logo por ele.
Até que um dia,
uma bela jovem chamada Rio,
encantou-se pelas cristas de Mar.
E Mar, que nunca teve margens,
Admirou-se pelas curvas de Rio.
Desde então, Rio e Mar podem fazer longas viagens,
mas sempre se encontram em algum lugar,
e se deságuam em beijos penetrantes.
Mar é uma palavra doce
quando se encontra com Rio.

Nome-do-pai

Poesia de sentido único (ou vários)

Quando criança ia à praia com a família
E meu* me lançava, nas ondas, no mar


* Essa poesia, se é que é poesia, mas representa o simbólico, não pode ser modificada, então resolvi acrescentar esta nota para explicar que era para escrever “E meu pai me lançava...”, suprimir a palavra “pai”, foraclusão, me dando conta posteriormente.
O sentido único da poesia, sou eu sendo lançado ao mar. Eu ia e não voltava, tinha que ser resgatado debaixo das ondas. Quando a onda era forte, era de vários sentidos, ficava em baixo sendo sacudido para cima, para baixo, para esquerda e para direita.

Na rede

É fácil escrever poesia
Basta ter atrevimento
Depois, você fica silencioso
no seu canto, comtemplando as palavras.
Como não sou mineiro,
Sou Baiano, estou na rede,
suspensa em duas paredes de sentimentos,
pescando palavras no ar.

Thursday, October 25, 2007

Planejar Esperança

Vida Cotidiana, Crítica da Vida Cotidiana e Pichon-Rivière




A Psicologia Social fundamentada por Enrique Pichon-Rivière se inscreve na Crítica da Vida Cotidiana. Pichon no livro “O Processo Grupal” diz “não há nada que não passe pela vida cotidiana”, e é nessa cotidianidade, nos fatos e nas coisas mais óbvias, que podemos indagar para encontrar a origem dos conflitos. É na vida cotidiana que se ocultam e se naturalizam os conflitos. Pichon propõe a crítica da vida cotidiana como a forma de não aceitar acriticamente o pré-estabelecido socialmente. Desocultar, desnaturalizar será a proposta deste espaço. Sair da familiaridade encobridora dessa cotidianidade.
Quantas vezes no dia-a-dia vamos aceitando aquilo que se apresenta como o natural, a superfície dos fatos, das condutas, das interações? Quantas vezes vemos e não enxergamos, ouvimos mas não escutamos; repetimos ações sem perguntar-nos o por que e o para que dessas ações? Quantas vezes cumprimentamos ao outro mecanicamente e o outro responde também mecanicamente, sem nenhuma consciência de estar no “piloto automátco”? E quando notamos ao outro, o notamos pela ausência. Quando o outro não está é que o percebemos. Questionar a cotidianidade nos implica, nos faz protagonistas de nossa história, mas não será apenas um questionar e sim buscar alternativas para mudar, dessa forma poderemos “planejar a esperança”, como diria Pichon.

Sunday, September 30, 2007

Um novo mundo

Um novo mundo…
De desejos, buscas e excitações
Um estrangeiro desiludido de sua vida
Um ancorar em novas terras
Um líder de motim, em busca de si próprio,
embrenha-se em matas virgens e se vê capturado
É salvo por uma bela mulher, que aprendem no silêncio das línguas o amor
O amor, Um novo sentido é dado ao silêncio

"Não cobiçaras o jumento do teu próximo..."






Estava cravada na praça da estação de ônibus de Juazeiro(BA) - "A Lei de Deus". Parei atentamente para ler, o ônibus demorava há uma hora, e esperava encontrar na primeira lei: "TENHA PACIÊNCIA". Como todos sabem, estava escrito - "não terás outros deuses diante de mim". Não estou aguentando com um, vou aguentar com outros.
E li um por um, imaginando já no quinto mandamento que ia parar no inferno, quando me deparei com o último "...não cobiçaras o jumento do teu próximo...". Fiquei imaginando quem cobiçar irá para terra do jumento sem cabeça, nem Dante conseguiu imaginar este inferno. Fato curioso: casa, mulher, boi, servo (a), jumento é tudo parte integrante deste mandamento. Então mulheres, fiquem à vontade para cobiçar, o homem da tua próxima, nada a respeito sobre isso.
São tantos "nãos" nos mandamentos, bem que poderia se chamar "negamentos". Uma coisa é garantida, não há mandamento ordenando para não escrever sobre a Lei de DEUS. Lei de Deus? Imagine se Deus iria se preocupar com a cobiça do jumento do próximo. Só se fosse um jumento com airbag, vidro eléttrico, freios ABS e conversível.
Bem que as avós de todo mundo dizia: cabeça vazia é morada do demônio. Quem manda o ônibus ficar demorando.

Sunday, September 16, 2007

Megabytes de poesias

Onde estão as poesias...? Basta a primeira tentativa de dar significado para que fiquemos aprisionados nisso que “não ousamos dizer o nome”. Voltei de Salvador tão perdidamente desconect@do, estranhava tudo...ver um amigo arrumar a casa, para mim não fazia sentido. Ouvir sobre o trabalho muito menos.
Estava com a cabeça tão virtu@lmente em muitos lugares, que não podia estar em lugar nenhum – era você e o estar ou não estar mais aqui. Queria te ver, não queria, queria sim...o que fazer? Estava sem minha conexão on line.
Estar aqui me deu uma série de noções da realidade, e não sabia o que fazer com elas, seria tão fácil se pudesse dar um reset. Um amigo falou que sabia que estávamos trocando cartas, tentava em vão saber o que estava ocorrendo. Nada contra, adoraria dizer, se soubesse. “Além de nós, existem mais...” pensei comigo, a partir de e com você, tudo muda para mim, e mudará.
Sei quando diz que nossas conversas levam a um sentimento. Antes mesmo das nossas conversas me vi absorto em pensamentos/sentimentos, e eram cada vez mais persistentes. Depois de irmos ao circo e passarmos a noite no sereno, fui dormir pensando em você. Acordei, fui à feira te imaginando ao meu lado; voltei, arrumei a minha mala com você ao meu lado; me atrasei para pegar o ônibus de tanto pensar em você, sair correndo pela rua atrás de um taxi e esperava te encontrar. Entrei no ônibus e lembrei-me de você o tempo todo, da primeira vez que viajamos.
O ônibus quebrou, fiquei duas horas esperando socorro, e não me sentia aborrecido, pois estava pensando em você, resolvi escrever para minimizar esta doce perseguição, e fiz um texto na tentativa de re-construir os caminhos do amor. Rascunhos que chamei de “Trajetória do Amor”, e acabei perdido, este mapa sabia aonde chegar, mas não sabia como chegar lá e nem tem o caminho de volta. Era um (a)mar de imagens e situações que estavam sempre incompletos, loading ................
Achava que assim que chegasse a Salvador, iria me esquecer (eu deveria escrever “te esquecer”, leve lapso), não conseguir e me flagro enviando megabytes de poesia para você...
Uma parte da história é essa...sair da conexão
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Tuesday, September 04, 2007

A filosofia do iluminismo

Este texto são resumos e estudos do iluminismo. Devo minha iniciação, admiração, e o reconhecimento do Iluminismo no saber da atualidade ao organizado professor José Menezes.



A Filosofia do Iluminismo - Cassirer, Ernest.


Não consiste um conteúdo doutrinal que tenha tentado elaborar e fixar dogmaticamente.

No tocante ao conteúdo de seu pensamento permaneceu muito dependente dos séculos precedentes.

Apropriou-se da herança desses séculos. Ordenou, examinou, sistematizou, desenvolveu e esclareceu muito mais do que contribuiu com idéias originais e sua demonstração. (um novo modo de linguagem que resgata as idéias do passado e lança a base para a filosofia moderna)

O novo e original é nova forma de pensamento filosófico.


Na Inglaterra e na França – quebra o molde do conhecimento filosófico, o sistema metafísico. Então, não caberia mais a filosofia restringir-se à tarefa de deduzir verdades da cadeia de axiomas fixados. Coube aos filósofos das Luzes discutirem a forma fundamental da realidade, de toda existência, tanto natural quanto espiritual.

A filosofia não está num domínio particular do conhecimento situado acima das verdades da física, das ciências jurídicas e políticas, ou qualquer outra ciência da natureza ou humanas. Mas é o meio universal onde todas essas verdades formam-se.

O sentido verdadeiramente fecundo do pensamento iluminista: menos por um conteúdo do pensamento determinado do que pelo próprio uso que faz do pensamento filosófico, pelo lugar que lhe confere e pelas tarefas que lhe atribui.





Os filósofos costumam dar uma importância menor ao iluminismo, considerando-a apenas como “filosofia da reflexão”. Cassirer atribui a Hegel este caminho de crítica, e obviamente, pelo peso de seu nome acabou legitimando esta visão do Iluminismo.

O esforço principal da filosofia do Iluminismo não se limita a acompanhar a vida e a contemplá-la no espelho da reflexão. Mas funda-se na espontaneidade originária do pensamento, não é restringi-lo a um papel de comentar a posteriori e de refletir, mas o poder e o papel de organizar a vida. (Ora, quem começa a inserir o discurso sexual dentro da seara do pensamento filosófico de forma sistematizada, atribuindo poder de causa e de ordem social, é o Iluminismo. Anterior a isso era uma literatura erotizada, que tinha mais o efeito de quebra de tabus do que explicações filosóficas e científicas, mas estas literaturas foram fonte de inspiração para os Iluministas)


O Iluminismo não cabe um estudo do desenvolvimento de sistema em sistema, como é possível do século XVII. Descartes a Malbranche, de Spinoza a Leibniz, de Bacon e Hobbes a Locke. No limiar do século XVIII, este método de estudo da história da filosofia não pode ser empregado, pois carece de força de lei e representatividade.

O iluminismo não pode ser estudado por uma doxologia, ou seja, não se destaca da soma e da sucessão cronológica de opiniões. Mas sim, na arte e na forma de conduzir os debates de idéias.


I – O Pensamento da era do Iluminismo

D´Alembert traçou um painel onde procura definir a situação do espírito humano em meados do século XVIII. Assinalou antes o seguinte:

Meados do século XV inicia-se o movimento literário e intelectual da Renascença..
Meados do século XVI, a Reforma religiosa está no apogeu.
Meados do século XVII é a vitória da filosofia cartesiana que provoca uma revolução radical na imagem do mundo.

Texto na íntegra de D´Alembert – leiam no livro.


Sobre o texto:
Aborda o mundo com a nova alegria de descobrir e com um novo espírito de descoberta. O pensamento sente-se ainda mais profundamente conquistado, mais apaixonadamente comovido por uma outra questão: a de sua própria natureza e do seu próprio poder.

É uma época que sente uma nova força atuando e que está menos fascinada pelas criações incessantes desta força do que pelo seu modo de ação.

Quando o século XVIII quer designar essa força, sintetizar numa palavra a sua natureza, recorre ao nome de Razão.

A “razão” é o ponto de encontro e o centro de expansão do século, de seu querer e de suas realizações. O século XVIII está impregnado de fé na unidade e imutabilidade da razão.

A razão é uma e idêntica para todo o indivíduo pensante, para toda a nação, toda a época, toda a cultura.

A expressão “Razão” ou racionalismo têm pouco peso, mesmo no sentido de uma característica puramente histórica. Vamos decompor um pouco este termo, dando sua importância entre os Iluministas, que se auto titulavam “século da Luzes”. Qual diferença específica da Razão?

De imediato é uma diferença negativa. O século XVII via na construção de “sistemas filosóficos” a tarefa própria do conhecimento filosófico. Então era preciso que o saber tivesse alcançado e estabelecido com firmeza a idéia primordial de um ser supremo e de uma certeza suprema intuitivamente apreendida, e que tivesse transmitido a luz dessa certeza a todo o ser e a todo o saber dela deduzido. (...) A única explicação de que é suscetível consiste em sua “dedução” rigorosa e sistemática, a qual o reconduz à causa primeira do ser e da certeza, permitindo assim avaliar a distância a que se encontra em relação a essa causa primeira e ao número de elos intermediários que o separam daquela. (p.24)

O século XVIII renuncia a esta forma de “dedução”, de derivação e explicação sistemática. Busca uma outra concepção da verdade e da filosofia, uma forma dotada de mais liberdade e mobilidade, mais concreta e mais viva. Em vez do Discurso do Método de Descartes, apóia-se nas Regulae philosophandi de Newton para resolver o problema central de método.

Não é vida dedução pura, mas a da análise. Newton não começa por definir certos princípios, certos conceitos e axiomas universais, a fim de percorrer passo a passo, por meio de raciocínios abstratos, o caminho que leva ao conhecimento do particular. É na direção inversa que se move seu pensamento: o verdadeiro método da física jamais poderá consistir em partir de algum dado arbitrariamente admitido, de uma “hipótese”. O newtonismo não pressupõe, como objeto e condição inviolável da investigação, senão a ordem e a legalidade perfeita da realidade empírica. Entretanto, essa legalidade significa que os fatos, como tais, não são um material simples, uma incoerente massa de detalhes, mas que se pode demonstrar, nos fatos e pelos fatos, a existência de uma forma que os penetra e os une. Essa forma apresenta-se como matematicamente determinada, estruturada e articulada segundo o número e a medida. Mas é justamente essa articulação que não pode ser objeto de antecipação conceptual, ela deve ser encontrada e demonstrada nos fatos. A compreensão da ordem e da legalidade empíricas.

Paradigma metódico da física newtoniana foi generalizada, como o instrumento necessário e indispensável de todo o pensamento em geral. Não cabe afirmar que há uma disputa entre a metafísica e a física newtoniana. Ao contrário, o verdadeiro método da metafísica harmoniza-se, basicamente, com o que foi introduzido por Newton na física. Não se busque, portanto, a ordem, a legalidade, a “razão”, como uma regra “anterior” aos fenômenos, concebível e exprimível e a priori: que se demonstre a razão nos próprios fenômenos como a forma de sua ligação interna e de seu encadeamento imanente (independe de uma ação exterior). Contudo é preciso reconhecer o limite de suas faculdades, e fazer uso do método analítico. “Mas temos que dizer: façamos exatamente a análise das coisas. Sempre que nos é impossível ter a ajuda da bússola da matemática e do farol da experiência e da física para guiar o nosso rumo, é mais do que certo que não –podemos avançar um só passo” (Voltaire, Tratado de metafísica, cap. V, citado por Cassirer cap. 1).

Outra diferença específica da mudança de significação característica que a idéia de razão sofreu em relação ao pensamento do século XVII.
Para os grandes sistemas metafísicos seiscentistas, para Descartes e Malebranche, para Spinoza e Leibniz, a razão é a região das “verdades eternas”, essas verdades que são comuns ao espírito humano e ao espírito divino. O que conhecemos e do que nos apercebemos à luz da razão é “em Deus”. Cada ato da razão nos assegura de participar da essência divina.

O Século XVIII confere um sentido mais modesto. Deixou de ser a soma de idéias inata, anterior a toda experiência, que nos revela a essência absoluta das coisas. A razão define-se menos como uma possessão (posse atribuída pelo poder divino) do que uma aquisição (um esforço terreno para se chegar a verdade, humano, por isso falível). Uma energia, uma força que só pode ser plenamente concebida em sua ação e em seus efeitos. A razão é uma operação para assegurar-se da verdade. A razão desmonta as crenças baseadas no testemunho da revelação, da tradição, da autoridade; só descansa depois que desmontou peça por peça, até seus últimos elementos e seus últimos motivos. Depois impõe uma tarefa construtiva. É mediante esse duplo movimento intelectual que a idéia de razão se concretiza plenamente: não como a idéia de um ser, mas como a de um fazer.

* Diversos domínio da cultura do século XVIII:

- sede de saber inscrita na substância da alma humana. O retorno da libido sciendi, a dogmática teológica tinha banido, era uma vergonha, um orgulho intelectual (até hoje, temos um pouco disso disseminado na nossa sociedade, das pessoas que pretende o caminho do saber. Na nossa sociedade o intelectual é desvalorizado, a favor do homem de posse), o século XVIII colocou como uma qualidade necessária da alma e como tal restabelecida em seus direitos naturais.

- Vamos ver na Enciclopédia francesa, retratada como o “Espírito do século XVIII”[1]. Este empreendimento polêmico levou Diderot a ser convidado pelas autoridades políticas e religiosas, amiúde, a passar algum tempo na prisão. Evento que não desanimou o seu espírito insurgente. A Enciclopédia negava os princípios religiosos e políticos da época, em busca de uma racionalidade do mundo, permitindo, assim, uma visão crítica e inovadora. que não se pretendia ser um acervo do conhecimento, mas provocar um novo modo de pensar.

-Tinham uma empolgação uma efervescência geral pelas forças em ação. Desejavam compreender e domina esta força. Assim, o primeiro passo foi determinar os limites do espírito matemático e o do espírito filosófico (determinação que não surgiu sem ambigüidades).
* Algumas aplicações do análise do espírito geométrico, antes aplicada ao espírito do número e da grandeza:

A análise no plano do psíquico e no plano social. Um método da relação analítica e da reconstrução sintética.

Dentro do plano psíquico este método parece incompatível pela diversidade de formas do conteúdo psíquico. Só que esta heterogeneidade é apenas aparente para o espírito do século XVIII. É tarefa da ciência trazer estes aspectos que escapam a um contado imediato. As formas psíquicas são passadas para as fontes e princípios. O grande mestre e guia da psicologia do Século XVIII é Locke, vai expor duas fontes diferentes de vida mental: sensação e reflexão. A par dos simples dados da visão, da audição, do tato, da cinestesia, do paladar e do olfato, Locke deixou subsistir, como totalidades originais e irredutíveis, as diversas classes de atividades psíquicas: a atenção e a comparação, o discernimento e a combinação, o desejo e a volição.

A existência do Estado e da sociedade, realidade que nasce o homem, e que exige que se adapte as novas formas já existentes. A faculdade de pensar, assim que despertada no homem, fá-lo erguer-se incansavelmente contra essa espécie de realidade. A sociedade é intimida a comparecer perante o tribunal da razão.
A vontade geral do Estado como se fosse constituída de vontades particulares, como se fosse nascida da união. Divisão em partes componentes (obedecendo ao mesmo método). Por metáfora o Estado passa a ser considerado um corpo, para que possa ser aplicado as mesmas regras que se aplica ao conhecimento da natureza dos corpos físicos.

Então, o caminho pelo qual o pensamento deve enveredar conduz, portanto, seja em física como em psicologia e em política, do particular para o geral, processo que, no entanto, seria impossível se todo o particular como tal não estivesse já submetido a uma regra universal.


Sérgio Paulo Rouanet.

O Iluminismo seria uma tendência que atravessa as épocas, não limitada a nenhum período específico, que se caracteriza por uma atitude racional e crítica. Ela combate o mito e o poder, usando a razão como instrumento de dissolução do existente e de construção de uma nova realidade.



Referência:

CASSIRRER, Ernest. A Filosofia do Iluminismo. Tradução Álvaro Cabral. 2ª edição. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 1994.
[1] GUINSBURG, J. A Filosofia de Diderot. Introdução, seleção e tradução de textos e notas por J.Guinsburg. São Paulo: Ed.Cultrix, 1966.

Felicidade, dor e liberdade como elementos do homem e da moral em Rousseau.

FELICIDADE, DOR E LIBERDADE COMO ELEMENTOS
DO HOMEM E DA MORAL EM ROUSSEAU
Victor Brandão Ribeiro


“Junto a nós, existem mil lugares por onde a criança pode sair de seu lugar; cabe aos que educam mantê-la nele, e esta não é uma tarefa fácil. Ela não deve ser nem um animal, nem um homem, e sim uma criança” (Rousseau)



A pretensão deste trabalho é que possamos relacionar o conceito de felicidade ao de dor e liberdade como norteadores do homem e da moral; mais precisamente, um estudo do Livro II do Emílio, quando estas questões são tratadas já como propostas pedagógicas da segunda fase da vida. De forma menos enfática, abordaremos como a lei civil contribuiria como instrumento de liberdade e representaria a felicidade do homem nas suas relações. Outro fator importante é o uso adequado da razão, como não pode deixar de considerar, tratando do iluminismo. Neste estudo é a razão na segunda fase da vida segundo Rousseau, a fim de apreender os conceitos de dor, liberdade e felicidade, os quais as crianças o adquirem na vida, nas relações com o mundo e com as pessoas; e não simplesmente nas palavras, apesar desta ter sua função nos controles dos impulsos.

A felicidade merece destaque na obra de Rousseau, na qual a expõe sobre múltiplos aspectos, uma delas é como uma eterna busca, presente na obra Les Rêveries du Promeneur Solitaire. Não é possível falar de uma única felicidade em Rousseau, mas sim, da felicidade da criança, do homem, do sábio, do povo, e tantas outras. Não cabe aqui especificá-las, mas optamos por uma proposta de conceito mais ampla que a relacione à idéia de dor e liberdade e coadune para uma vida moral. Independente dos tipos de felicidade, um sentimento se repete na obra de Rousseau, já sinalizada no final do Primeiro Discurso, “de que serve procurar a nossa felicidade na opinião dos outros, se podemos encontrá-la em nós mesmos!” (Primeiro Discurso, 2006a, p.17).

1. A Dor Moral



Rousseau crer piamente no aperfeiçoamento do ser humano, estabelecido por uma educação desde os primeiros dias de vida, que transformará o indivíduo e a humanidade. Educação que modifica crenças e modo de condutas que interferem no sentimento, e no desenvolvimento futuro da razão. Diante disso, preocupou-se com algo que poderia ficar restrito aos livros de medicina – a dor. Contudo, com a sua sensibilidade de espírito, atribuiu uma importância moral àquilo que poderia ser uma simples e incomoda sensação. A expressão de dor de uma criança é percebida menos pelas condições físicas do que pelas psicológicas, “...o medo que atormenta quando nos ferimos” (Emílio, p.70). Rousseau não pretende fazer um tratado médico sobre o conceito de dor, mas sim, justificá-la como instrumento de aprendizado para o indivíduo transitar para uma vida social. E sinaliza algo importante, as sensações são repletas de significado, atribuído através do processo de aprendizagem, ou pode-se dizer simplesmente, através da vida.

A criança suportando as dores leves, que são a do corpo, aprendera a suporta as grandes, que são as da alma. E assim estabelece o primeiro ensinamento “sofrer é a primeira coisa que ele deverá aprender, e a que ele terá maior necessidade de saber” (Emílio, p.70). Vivemos numa sociedade que ser feliz, ter sucesso e ser o melhor são nossos primeiros ensinamentos, e esquecem que para alcançar todos estes, precisamos aprender a sofrer. Dito de forma mais sutil, ampliar nossos limites de frustração. A lógica de Rousseau está ancorada é que quanto menor o sofrimento mais próximo da felicidade, mas para menos sofrer precisaríamos de tolerância diante das dificuldades ou dores da vida. Rousseau, por exemplo, trata que as quedas de uma criança, não ameaçam sua existência; além do mais, os machucados são compensados pelo bem-estar da liberdade e autonomia. Se uma criança caiu foi porque corria sem amarras. Cair e aprender a levantar é como o corpo prepara alma. O corpo para Rousseau será uma metáfora da vida.

A criança que se comunica através da fala esta na segunda fase da vida, segundo a classificação de Rousseau, a fala é um marco desta fase. Apresenta a importância da linguagem como contenção das expressões mais naturais, como o grito e o choro. Um importante aspecto pôde ser deduzido desta relação entre linguagem verbal e não-verbal: a fala como uma substituta da expressão motora, transição que Rousseau reconhece como progresso natural, se assim não proceder, é por deficiência da relação entre o educador e a criança[1]. A transição da linguagem corporal a verbal se faz necessária, pois evitará mimos provenientes de um convívio social. “Se a criança for delicada, sensível, e naturalmente se puser a gritar por nada, dando gritos inúteis e sem conseqüência, logo secarei essa fonte” (Emílio, p.69). O que Rousseau coloca em questão é o choro como instrumento de socialização ou comunicação na primeira fase; mas já não tem o mesmo efeito com o recurso da fala, se assim proceder passa a ser vícios sociais, deixando de ser uma expressão natural de dor ou necessidade.

A criança deve conhecer a dor, “eu ficaria muito aborrecido se ele nunca se ferisse e crescesse sem conhecer a dor” (Emílio, p.70), ao se referir a Emílio, seu personagem fictício da obra homônima. Contudo, o choro não é uma expressão adequada, enfraquece o espírito, a não ser diante de verdadeiras dores. O que está em pauta, neste momento, para a constituição do sujeito, é o saber sofrer, ser menos sensível, ou apenas aprender a sentir a força que a necessidade impõe, nem mais, nem menos. E assim se aprende não com regras, mas vivendo. A primeira das lições é aprendida sem constrangimentos, sem restrições, sem consciência, só com aquilo que a natureza lhe imputa, as leves dores do corpo. Sem constrangimentos e sem consciência, pois para a criança o que prevalece é o prazer de viver[2]. A liberdade é sentida como o livre gozo.

Ao contrário, do que muitos pensam, seu projeto não preza pelo sofrimento e dor, mas por saborear a vida. “Assim que eles puderem sentir o prazer de existir, fazei com que o gozem” (Emílio, p.73). A idéia de multiplicar as dores na infância é porque têm conseqüências menos nefastas no aprendizado enquanto criança do que virem a se repetir na fase adulta. As dores de um homem com espírito fraco são muito maiores que as dores de uma criança. Então, desde criança deve-se fortalecer o espírito, e não torná-lo débil. Mas a única ação que recai no ensinamento da criança é a própria natureza, é deixá-la livre e aprender com as próprias quedas. “Nossas mania professoral e pedantesca é de sempre ensinar às crianças o que aprenderiam muito melhor por si mesmas” (Emílio, p.71).


2. Felicidade e Liberdade: o menor sofrimento e a menor dependência.

Rousseau critica as pedagogias, e este é um importante ponto de reflexão: “sacrifica o presente para o futuro incerto” (Emílio, p.72). Há referências que a taxa de imortalidade infantil era alta na época, o que leva a crer que se referia a este aspecto do “futuro incerto”. Como também, pode ser analisada sobre um aspecto menos materialista, uma importante crítica que forma o homem para o futuro sacrificando seu presente. A sensação é de um vazio, de um homem que não está aqui e nunca chegará - “sempre considera o presente como nada e, perseguindo sem tréguas um futuro que foge à medida que avançamos, de tanto nos levar para onde não estamos, leva-nos para onde não estaremos nunca” (Emílio, p.73). E arremata a idéia colocando que os adultos estão preocupados em ajustar as más inclinações de uma criança, sem se procurar saber se as más inclinações não provêm de seus ensinamentos e não do desenvolvimento natural. Outra referência importante sobre o que é felicidade, é um fato presente, e não uma expectativa futura.

O conceito de felicidade de Rousseau é extremamente importante, pois é a sua compreensão que liga o primeiro ensinamento da criança – o saber sofrer – ao homem e ao cidadão. Dentro de uma visão mais ampla, uma felicidade negativa: “O mais feliz é o que sente menos sofrimento; o mais miserável é que sente menos prazeres” (Emílio, p.74). Rousseau relaciona o conceito de dor ao de felicidade, num paralelo entre a criança e o adulto. Enquanto criança ensina-se a suportar às pequenas dores, para sofrer menos enquanto adulto. O adulto equilibra os desejos, que supõe penosas privações às nossas faculdades. Não cabe ao homem diminuir os desejos ou ampliar as faculdades, mas “diminuir o excesso de desejo relativamente às faculdades” (Emílio, p.74). Só é possível avaliar o desejo a partir do quanto posso alcançá-lo. A partir de tal tarefa pode-se avaliar a inibição dos desejos, um exercício que deve ser praticado na infância, para que seja mais leve na fase adulta e uma autodeterminação, e não vi da obediência a outro.
O homem para deixar sua alma tranqüila deve equilibrar o poder e o desejo, esta possibilidade só é possível olhando para si. Este é o caminho da felicidade, muito próximo das considerações que Silva destacou sobre a felicidade:
“...uma certeza interior que possa imediatamente assegurar a conduta cotidiana e garantir, apesar da incompreensão e das perseguições, o homem de paz e de serenidade que ele sempre aspirou” (Silva, p.155).

O homem civil que estabelece o contrato precisa saber perder e aceitar os limites do mundo real e do outro, para que possa agir em interesse comum. Não podemos ampliar o mundo real, diz Rousseau, reduzamos o mundo imaginário. Entendam por isso, se não podemos mudar o mundo, mudemos a nós próprio. Há uma relação entre as coisas real – exterior-, e um “eu” – interior-. Reis (2005, p.141) explora este assunto e nos esclarece:
“A metáfora espacial presta-se a muitos usos, a analogia pode desdobrar-se em várias outras. Uma delas é a de exploração: o indivíduo representado como um “eu”, ocupando-se de si mesmo, explora seu espaço interior, à maneira de um excursionista. Mas o imaginário do espaço também abriga as imagens de ocultação, de obstáculo: não é raro que o indivíduo, em suas excursões pelo espaço interior, depare-se com abismos, profundezas, barreiras intransponíveis”.


Rousseau, filósofo estrangeiro, revela sobre seus pares e sobre si: “ Aí estão, estrangeiros, desconhecidos, nulos em definitivo para mim, porque assim eles o querem. Mas eu, separado deles e de tudo, Quem sou? Isto é o que me falta descobrir” (Premiére promenade, 2006c p.1). É como existisse um ser além da vida moral, e revela logo adiante: “O hábito de entrar em mim próprio, me fez perder o sentimento e quase a lembrança do mal, aprendi ainda pela minha própria experiência que a fonte da felicidade está em nós” (Seconde promenade, 2006c p.5).

Lévi-Strauss abordou este “quem sou?” como um “Eu” epistemológico no qual Rousseau expressa que existe um outro de que se pensa em mim, e que me faz duvidar em primeiro lugar de que sou eu o que pensa. Esta tarefa só é possível, pois a resposta a esta pergunta não seria tão somente do cogito cartesiano, mas do ser que se sente. Assim expresso no Emílio: “Para nós, existir é sentir; nossa sensibilidade é incontestavelmente anterior à nossa inteligência, e tivemos sentimentos antes de ter idéias” (Emílio, p.410). Rousseau se desfaz de um “eu” tão certo de si, e o considera objeto estranho, não familiar, passível, como qualquer outro objeto, de pesquisa[3].



3. A Liberdade a serviço da Felicidade



A sociedade enfraquece o homem por retirá-lo o direito sobre sua força. E ser forte é viver e se contentar com o que se é, diz Rousseau (Emílio, p.81). A sociedade torna o homem fraco porque o faz se sentir maior que a humanidade. O homem forte é o homem livre, e a liberdade é limitada pela força da natureza, “o homem verdadeiramente livre só quer o que pode e faz o que lhe agrada” (Emílio, p.81). Ou seja, no momento que ele precisa de outro, seja da opinião ou do braço, não se bastando por si próprio, será um homem fraco, escravo e infeliz, pois não estará em equilíbrio: potência e necessidade. A liberdade é o primeiro de todos os bens. Se a criança é fraca em comparação ao homem não é pela força física ou absoluta, mas pelo seu estado de dependência, mas esta é compensada ou suprida pela afetividade entre os pais e as crianças.

Entende que antes que as instituições humanas alterem as inclinações naturais, a “felicidade da criança e dos homens consiste no uso de sua liberdade” (Emílio, p.82). Ser feliz, agora, é ser livre. A criança terá uma liberdade imperfeita, pois vive numa condição de fraqueza ou dependência, assim como o homem no estado civil. Assim, compreende-se que o júbilo da liberdade infantil, ou a ignorância feliz da criança do seu estado de dependência, é para compensar seu estado de fraqueza. Satiricamente Rousseau conclui “éramos feitos para sermos homens, as leis e a sociedade voltaram a mergulhar-nos na infância” (Emílio, p.82). O que seria um estado de dependência e ignorância feliz.

A falta moral é proveniente do estado de dependência entre os homens. A forma de remediar este mal será substituir o homem pela lei, e a vontade do rei, pela vontade particular. As leis surgem como instrumento de liberdade, é a dependência das coisas. Rousseau distinguiu dois tipos de dependências “a das coisas, que é da natureza, e a dos homens, que é da sociedade” (Emílio, p.82). A dependência que se estabelece entre os homens, e não entre as coisas, não prejudica a liberdade ou cria vícios, pois estas não têm nenhuma moralidade. O que leva a crer, que a lei civil para o homem tem o mesmo valor imperativo da lei natural para criança. Exercitar e sensibilizar a criança na lei da natureza, estará preparando o homem para a lei civil, exercícios para o estado de liberdade, humanidade e comiseração. Rousseau compreende que o “homem que não conhecesse a dor não conheceria nem a ternura da humanidade, nem a doçura da comiseração” (Emílio, p.86). Agora, relaciona-se o conceito de dor e liberdade ao de vida moral. O que pode ser questionado que a lei civil para ser tão perfeita e justa quanto a lei natural deveria ser feita por homens perfeitos e justos, e ainda não sei como se resolve este problema na obra de Rousseau.

Contudo, não é caminho da razão que deve dirigi a criança. Educar uma criança pela razão é começar pelo fim. Se as crianças ouvissem a razão, não precisariam ser educadas, educá-la pela palavra é corrompê-la prematuramente. Dar ao homem o lugar de homem, e a criança o de criança, diz Rousseau. A preocupação é não fazer uso inadequado da razão, e empregá-la num momento oportuno. “Fazei melhor do que isso: sede razoável e não raciocineis com vosso aluno” (Emílio, p.97).

As idéias das crianças deveriam se deter nas sensações. Rousseau conserva a razão para o momento adequado na vida humana, ou a maturidade racional que vem com o tempo. E estabelece o conceito de infância que perdura até os dias atuais, “a infância tem maneiras de ver, de pensar e de sentir que lhe são próprias” (Emílio, p.91). A filósofo genebrino fez perceber que a infância é sempre, não foi algo, e não é mais. Não que esta idade seja desprovida de razão, mas adquire “toda razão de sua idade, ele foi tão feliz e livre quanto lhe permitia sua constituição” (Emílio, p.208). Desta forma, a razão desta idade não é dos grandes discursos e perguntas, “as perguntas repetidas demais aborrecem e cansam a todos, e com maior razão as crianças”[4] (Emílio, p.209).

Pode-ser perceber que o conceito de felicidade em Rousseau passa por muitas definições: ao de prazer, ao da menor dor e ao de liberdade. Estes múltiplos aspectos não condizem uma contradição, mas estão inter-relacionados, preparando o homem para a sua condição inexorável, ser o que é, com a sensibilidade dos sentimentos e o bom uso da razão. Tentamos demonstrar que Rousseau se esforça por atribuir ao homem, força de espírito, prazer e liberdade como condições do homem universal, e como elementos que podem ser úteis ao homem civil. Longe de finalizar este assunto, espero despertar o interesse por conceitos que movem a alma como a esperança na felicidade.



















REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


LÉVI-STRAUSS, Claude. Jean-Jacques Rousseau, fundador de lãs ciências Del hombre. In: Sazbón, José (org.). Presencia de Rousseau. Colección Teoria e investigación en las ciencias del hombre. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 1972.

REIS, Cláudio e Araujo. Unidade e liberdade: o indivíduo segundo Jean-Jacques Rousseau. Brasília: Editora Universidade de Brasília: Finatec, 2005.


ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio, ou, Da educação. Tradução: Roberto Leal Ferreira. – 3º Ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2004. (Paidéia).

___________________. Les Rêveries du Promeneur Solitaire. Fonte Gallica, Bibliothéque Numérique de la Bibliothéque Nationale de France.
Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=7295. Acessado em Junho. 2006

SILVA, Genildo Ferreira da. Rousseau e o Fundamento da Moral: entre a razão e religião. São Paulo, Campinas: Unicamp, 2004. (Tese de Doutorado)


[1] Tema posteriormente explorado por pensadores da área de educação como Henry Wallom, Jean Piaget, Vigostki
[2] Rousseau, sobre este assunto, explicitamente recorre a Platão na proposta de educação na República: “Ficais alarmados por vê-la consumir seus primeiros anos sem nada fazer. Como! Não é nada ser feliz? Não é nada saltar, brincar, correr o dia todo? Em toda a sua vida, nunca estará tão ocupada. Platão, em sua República, considerada tão austera, só educa as crianças em festas, jogos, canções, passatempos; dir-se-ia que ele terminou quando lhes ensinou a se divertirem bem” (Emílio, p.118).
[3] Este espaço interior tão explorado por Rousseau é originário da tradição Iluminista, como bem esclarece Reis (2005, p.151) apresentado as fontes de Rousseau. “A imaginação do espaço do interior em Rousseau, portanto, é alimentada por essas duas fontes principais: a psicologia lockeana, de um lado, enriquecida por todas as contribuições posteriores; e, de outro, a tradição dos moralistas com sua imagem predileta do coração. É essa, (...) a imagem mais comum em Rousseau para designar a interioridade. O termo “coração” conta quase 2.500 ocorrências em toda obra.

[4] Seria uma crítica a maiêutica Socrática? Recurso tão utilizando no seu Primeiro Discurso.

Saturday, September 01, 2007

Bufão... o palhaço do Brasil!






O bufão é aquele que critica aspectos ou condutas sociais que lhe parecem falsas, hipócritas e ridículas. E ridiculariza este outro falso e as condutas sociais com o uso do seu corpo e pantomima. Ridiculariza a si próprio na representação de todos, esperando com isso o clareamento ou mudanças das relações.
Na peça Bufão – o palhaço do Brasil, o nome já apresenta uma aparente ambigüidade entre o palhaço e o bufão, que ele era um bufão que se fez palhaço, o que é fascinante e um ganho para proposta artística, pois não faz uso do ridículo ou não ridiculariza alguma personagem social. Sem o ridicularizar faltaria o bufão, mas este se apresenta quando ridiculariza a solidão humana, a rotina e o cotidiano. E eleva, sobremaneira, o indivíduo enquanto ser de alteridade. Valoriza a atenção, o cuidado com o outro, na sua forma mais imediata de interação e contato. O nosso Bufão valoriza o toque, o olhar, o gesto (ação) amoroso (a) - a linguagem dominante do espetáculo -, o que faz sentido e se demonstra um desafio: um monólogo mudo para criança, que os adultos adoram, que fala do cuidar de si e do outro.
E no mundo de barulhos, o Bufão propõe o silêncio para que se possa sentir. Propõe o silêncio para que se ouça o coração com o despertar do sol, e o anoitecer com a lua. Sol e lua são símbolos da peça, na qual aborda a sucessão temporal que todas as atividades mortais se realizam; ao mesmo tempo em que são oposições, entre o movimento e o repouso; apresenta-se como uma escolha entre despertar o amor e sossegar a agonia.

Várias Dores

Por que chamam Salvador de cidade da alegria, será que não percebem a leitura subliminar, “salve a dor”, carnaval quem diga!

Por que quando perguntam: onde estar a cerveja? E respondem gritando: no congeladooooooor! Congela a dor? Quando for cerveja vamos combinar, será: no congela a alegria!

Semeador, aquele que semeia a dor? E quem semeia a dor colhe tempestade, já dizia o poeta. Vamos combinar, quando eu estiver no campo semeando, me chamem de semeamor.

Eu nunca gostei de orador, é sempre muito chato, não precisa nem dizer o porquê. Eu fui orador da minha turma, e fiz um discurso que ninguém gostou, não foi culpa minha, orador é ora a dor.

Odor só deveria ser para cheiros desagradáveis.

A dor do parto é a dor que fica
E amor no parto já foi um dia amor de...

Assinado (ô): Abdicador

Tuesday, August 28, 2007

Só/lidão partida

Van Gohg

Por mais que sonhe por uma
Solidão Partida...
Só encontro...
Só lidão partida
Retomo e recomeço
na minha inteira solidão.

victor

Mãos dadas

Desenho de Carlos Lyra Fonte: site abaixo.


Para mim esta poesia homenageia a vida e toda sua materialidade e possibilidades de mudanças coletivas. Não fugir é sempre importante, no mundo tão cheio de fugas programadas e não programadas. Olhar eternamente o presente, sem se afastar muito. aproveitem e visitem o site: http://www.memoriaviva.com.br/drummond/index2.htm







"Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente."

Drummond

“E o que não é amor, o que existe? Palavras!”

Me pergunto se o que é o amor não passaria de palavras? Penso que as palavras são contornos que damos aos sentimentos que nos invadem. Contornos imperfeitos, é certo.

Mas que outra forma encontraríamos para dar sentido ao que não tem? Como suportar o desconhecido, o inominável que arrebata e nos prende ou seria, nos liberta?

O silêncio não é ausência das palavras, mas é o momento em que elas sucubem e reverenciam como um súdito ao seu rei. É nesse momento que o amor assumiria sua forma mais pura? Livre das significações e tentativas de contorno? Isso me levaria a crer que o amor não dura mais que milésimos de segundos...mas você poderia dizer que é atemporal. De fato, a sensação vivenciada é tão forte que ao fechar os olhos e relembrá-la percebo que a intensidade não esvaiu...Mas como garantir que não sou eu a segurá-la?

Como posso deixar escapá-la se com ela vai o meu único momento de total sensação de estar vivendo algo real? O silêncio me confunde e volto desesperadamente às palavras que me iludem em suas efêmeras certezas.

Autora: ?.

Saturday, August 18, 2007

Dialogando com o silêncio

Re-leitura da Poesia "Senão Palavras".

O tema silêncio pode ser fruto de muitas inspirações, Bachelard aborda silêncio como necessário ao processo criativo científico ou artístico, associado ao amor, vai dar algumas páginas se não livros de poesias. Imagino que o silêncio é indispensável ao amor. Se imaginarmos o amor como fruto de um processo criativo, a dois e ao mesmo tempo solitário, é necessário alguns momentos de silêncio para se construir o amor.
O que se pergunta é sobre o amor, e não o silêncio, é o amor o silêncio? Ou é o amor as palavras? Na minha poesia percorro por caminhos incertos para revelar de forma abrupta no final que o amor é o silêncio, negando a poesia inteira que afirma que é a palavra. Não é uma negação total, são dois momentos diferentes, o trivial vive as palavras, mas o transcendente vive o silêncio.
Na realização do amor se quebra ou se permanece o silêncio? Talvez o que gostaria de dizer é que o amor é o momento do silêncio, tudo depois é o amor em palavras. A palavra nunca trará a essência, pois é viciada...poderia dizer que o amor é a voz do silencio, mas a palavra não consegue ser a voz do amor; é sempre insuficiente, por isso se fala tanto, ou se pensa, a palavra em pensamento também faz muito barulho.
A sua poesia me lembrou um livro de Pablo Neruda, chamado "Livro das Perguntas", afirma muito pouco...poderia refazé-la e colocar ela toda em pergunta, esteticamente seria interessante, já que a poesia é marcada pela incerteza da palavra. Você abordou uns pontos centrais do que desejava passar. E gosto da noção de silêncio, não como uma oposição ou ausência de palavras, mas integradora da palavra, é muito mais digno o silêncio que a palavra, que se submete e se rende ao silêncio, poderia dizer que se rende ao amor, mesmo no instante (que é outra possibilidade de tema, o instante, o momento, o tempo). Isso tudo se repete pelos sentimentos do poeta.
Para Fernando Pessoa, o silêncio na poesia "Hora absurda" parece ser inquieto, é como se o silêncio deixasse algo em suspensão e pronto para acontecer, o primeiro verso:

"O TEU SILÊNCIO é uma nau com tôdas as velas pandas...
Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso...
E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraiso..."

O silêncio deixa as velas infladas, mas batem as brisas que não são suficientes para dar partida a nau, o sorriso quebra o silêncio, ao mesmo tempo que permanece, mas é algo que o eleva, se finje alto e no paraíso. "Pandas" é a mesma coisa que 'infladas", e "andas" a mesma coisa que "perna de pau". A imagem da escada não seria suficiente para saber se subia ou descia colocou assim "andas" e permanecia a rima e o ritmo da estrofe, eu creio. Gosto desta visão de Pessoa.

Gostaria de afirmar este e outros diálogos contigo, aceitando ser o interlocutor da nossa poesia e da nossa psicologia, através de Drummond.

"Há tantos diálogos
Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado

Diálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as idéias
o sonho
o passado
o mais que futuro

Escolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos"

Drummond

Friday, August 17, 2007

A Intimidade Feminina no Século XVIII em Diderot

Este é um pequeno fragmento de um artigo meu publicado na revista Ciente-fico.com, com o título supracitado "A Intimidade Feminina...". Quem tiver maiores interesses leiam na íntegra no endereço: http://www.frb.br/ciente/Textos%20CienteFico%202003.1/Psicologia/Exercícios%20Monográficos/A%20intimidade%20feminina%20do%20séc%20XVIII%20em%20Diderot.pdf .

"O interesse pela alma feminina sempre foi fonte de inspiração para poetas, literatos, e também, objeto da curiosidade filosófica e científica. Um percurso no qual tenta-se, ao final, revelar as verdades da mulher pela ciência, mas obscurece cada vez mais; talvez a mulher não precise ser pensada, mas sentida.
Este trabalho realiza uma análise de conteúdo do discurso de Denis Diderot, em 6 obras, que delinearam o tema específico – A Mulher –, e permitiu uma convivência com os ideais filosóficos iluministas. Autor do século XVIII, “Filho da Luz”, Denis Diderot apresenta-se como um agitador cultural, filósofo, romancista, teatrólogo e responsável pelo maior empreendimento cultural do século XVIII – coordenador-geral da Enciclopédia dos Iluministas 1 – retratada como o “Espírito do século XVIII”2. Este empreendimento polêmico levou Diderot a ser convidado pelas autoridades políticas e religiosas, amiúde, a passar algum tempo na prisão. Evento que não desanimou o seu espírito insurgente. A Enciclopédia negava os princípios religiosos e políticos da época, em busca de uma racionalidade do mundo, permitindo, assim, uma visão crítica e inovadora.
A princípio, a obra escolhida para observar o feminino foi Jóias Indiscretas, porém em algumas obras, observa-se, mesmo que discretamente, uma preocupação com o feminino. Então, foram escolhidos alguns livros para incursionar e investigar, possibilitando uma visão mais ampla e segura do autor, a saber: Diálogo entre D’Alembert e Diderot; O Sonho de D’Alembert; Continuação do Diálogo; Suplemento à viagem de Boungainvillet: Parodoxo sobre o comediante; Jóias Indiscretas.3 Algumas perguntas direcionam o trabalho: Quem é essa mulher de que fala Diderot? Qual o contexto histórico e intelectual (filosófico da obra)? Há uma coerência nas idéias sobre a mulher nas obras analisadas?
Michael Foucault reflete sobre o livro Jóias Indiscretas a idéia do “saber-sexo” ou “sexo-saber” do século XVIII até os dias atuais4 A perspectiva de Foucault incide mais sobre um dos personagens daquela obra, Mangogul, que lhe permite a seguinte afirmação: somos “presa de uma imensa curiosidade pelo sexo, obstinados em questioná-lo, insaciáveis a ouvi-lo”. A pesquisa presente é mais específica à identidade da mulher em Diderot, considerando seus aspectos éticos, estéticos, sexuais, orgânicos e sociais. O personagem que interessa neste estudo, nas obras de Diderot, é a mulher, mais especificamente na obra Jóias Indiscretas. Contudo, o sexo enquanto expressão de desejo e subjetividade será abordado, pois é um dos eixos que insiste Diderot ao tratar sobre a alma feminina.
Denis Diderot faz uma análise da subjetividade da mulher na sociedade como ser de desejo sexual e as várias formas de controle sexual; pensamentos que são ousados e extravagantes para o século XVIII. Pensando sobre a ética sexual ou apenas retratando-a, bem típico do Iluminismo na busca de uma nova identidade social e ética, Diderot mostrava-se solidário e atencioso para com a mulher, em vários momentos exalta a natureza feminina.
Influenciado por uma perspectiva mecanicista e organicista, justificava e explicava o comportamento humano sobre esses paradigmas. Por exemplo, a sua contribuição no que diz respeito ao desejo e ao papel sexual, chegando a afirmar que o celibato é causador de desorganização mental, tem explicações organicistas: a desorganização psíquica não estava relacionada estritamente à falta de sexo, mas ao acúmulo seminal, e não afetava a “mente”, mas os “feixes nervosos”. Este trabalho, apesar de pontuar as questões orgânicas, dedica-se, em grande parte, a ressaltar as especulações éticas sobre o sexo, com todas as conseqüências sociais e a uma “entrega” do desejo feminino, afirmação da subjetividade."

continua...

A-MAR


Lancei-me ao mar e perguntava incessantemente:

- Há mar?

Ele não me dizia nada, batia em mim cada vez mais forte, e eu falei:

- Aaaaah... mar!

Sair correndo e as ondas tentavam me agarrar pelos pés, ainda conseguir chutar duas entre espumas.

- hahahaha mar!

Ri muito, satisfeito de mim próprio. Eu fugi...mas quando olhei a minha volta estava em cima de uma pedra, arrodeado de mar. Bem que "mar" poderia ser uma palavra feminina, assim minha rima daria certinha.

- Lancei-me à mar.



Thursday, August 16, 2007

Humanizar os Pobres!?


Rabinow, Paul. Antropologia da Razão. Artificialidade e Iluminismo. Tradução e Organização João Guilherme Biehl.

Biopoder – “aquilo que faz com que a vida e seus mecanismos entrem no domínio dos cálculos explícitos e faz do poder-saber um agente de transformação da vida humana” (FOUCAULT1 apud RABINOW).
“Historicamente, as práticas e discursos do biopoder agruparam-se em dois pólos distintos: a ‘anátomopolítica do corpo humano’, âncora e alvo das tecnologias disciplinares, e um pólo regulador centrado na população com uma panóplia de estratégias concentradas no saber, no controle e no bem-estar2.
Rabinow pesquisa uma nova articulação dos discursos e práticas do biopoder – pelo Projeto Genoma [Human Genome Initiative]. Segundo, o autor, “corpo e população estão sendo rearticulado naquilo que se poderia chamar de uma racionalidade pós-disciplinar” (p.135)
Discute o posicionamento de Deleuze ao contra-argumentar Foucault, que atribuiu a linguagem da tríade antropológica – vida, trabalho, linguagem – uma importância na constituição de uma nova episteme. “O argumento de Deleuze não é o de que a linguagem é irrelevante, mas sim de que novas práticas que vão marcar época estão surgindo nos domínios do trabalho e da vida”. Contudo, ressalta Rabinow que é necessário considerar os termos heuristicamente, “considerando-os isoladamente e como uma série de pares de base unidos – trabalho e vida, vida e linguagem, linguagem e trabalho -, para verificar onde eles levam” (p.137).
A pesquisa de Rabinow investiga o Projeto Genoma que está imbricado com avanços tecnológicos no sentido mais literal (1). E o mais importante segundo o autor, que o objeto pesquisado, o genoma humano, possa ser conhecido de tal forma que possa ser transformado.
Eu realizo um paralelo quando a psicologia social, como forma de saber, se insere em comunidades de baixa renda, através de vínculos estatais ou não, com o pretenso discurso de Humanismo, com dois intuitos fundamentais: o primeiro, como ciência que tem como objeto o comportamento humano, avançar na compreensão humana e formas de convivência; e o segundo, que as comunidades que são implementadas projetos sociais possam ser conhecidas de tal forma que possam ser transformada. Como dirá Rabinow, “representação e intervenção, saber e poder, compreensão e reforma são construídos simultaneamente, a partir do início, como metas e meios” (p.137).
O que me leva a discussão do conceito de humanismo, não seria um artificio para o antigo ideal europeu de civilizar os selvagens. Então, surge uma preocupação com o conceito de Humanismo e às “instituições e práticas a eles associadas”, procurando descrever o que está acontecendo (p.137).
Por que se investe tanto dinheiro em projetos sócio-educativos cívicos, e oferecem tão pouco instrumento de reflexão crítica? O que me leva a pensar que querem humanizar, sem educar; e a educar, sem refletir. E quando falam em humanizar sempre se lembram dos pobres, que tal se surgissem organizações para humanizarem os ricos. Será inevitável não expor os tentáculos do Estado neste papel que limita e impõe as regras para os projetos sócio-educativos. Necessário rever historicamente os papéis das organizações que desenvolvem projetos sociais e sua atual ligação com o Estado. Analisar as imbricações políticas quando se propõe “Humanismo” aos pobres e as organizações bem intencionadas sustentam.
E o Estado teria que estar disposto de posiciona-se diante da ética da sociedade, e não procurar manter o controle na população que foi marginalizada.
1 História da Sexualidade 1. A vontade de saber.
2 Ibid. p.134.

A superior maestria do riso

Miró: La sonrisa de una lagrima

Um dia um amigo me falou que lembrava de mim pelo riso. Outros sabem que estou presente em espaços públicos quando ao longe ouvem meu rosnado riso, outros criticam, acham estranho...me deparo com este texto de um filósofo alemão que me identifico sobremaneira.



“Apesar daquele filósofo que, exatamente como um inglês autêntico, procurou desacreditar o riso para todas as cabeças pensantes - ´o riso é uma doença triste da natureza humana da qual todos os pensadores deveriam fazer um esforço para se libertar´ (Hobbes) – permito-me estabelecer uma hierarquia dos filósofos segundo a qualidade de seu riso, colocando no ápice os capazes de um riso dourado. Admitindo que os próprios deuses cultivem a filosofia, o que várias conclusões levam-me a crer, não duvido, também, que eles, filosofando, saibam rir de um modo novo e super-humano, às custas de todas as coisas sérias. Deuses são brincalhões: parece que, mesmo durante a celebração dos ritos sagrados, não podem segurar o riso”. Nietzsche.









Tuesday, August 14, 2007

Povo soberano, não confudir com povo sobreânus

Este texto escrevi em outubro de 2006...faça sua própria avaliação do Companheiro LULA, neste passar de ano. O que mudou? ACM morreu e a esquerda baiana vai ter que olhar para o próprio umbigo.

Lula começou seu mandato com a seguinte frase: “A eleição acabou. Não tem mais adversário. O adversário são as injustiças sociais”. Ora, mas por que o povo baiano precisa personalizar esta injustiça social em ACM?
Praça da Mariquita, 29 de outubro, segundo turno para a presidência, todos já sabiam que Lula ia ganhar, mas estavam todos reunidos vibrando a cada ponto ganho como se fosse novidade, ou como estivesse ganhando de virada no segundo tempo, aos 40 minutos. Para entender este fenômeno aqui na Bahia, precisamos lembrar dos anos de poder carlista, depois de tanto tempo a sensação era justamente essa: “ganhamos de virada”.
O povo ainda cantava a vitória de Jacques Vagner ou melhor a derrota de ACM: “eu, eu, eu ACM se...”. Estas três letras se tornaram tão importantes no imaginário baiano que mesmo perdendo ele ganhou. Ganha importância, ganha bordão, e continua o mesmo. O brilhantismo da vitória do PT está na "derrota de ACM", pelo menos aqui na Bahia.
O que aprendemos com a política brasileira? Aprendemos que a doutrina “Roubo, mas faço” de Adhemar de Barros, é exercida por todos e engolida por muitos. Todos que moram aqui na Bahia estes últimos 20 anos tem em ACM a figura do mal. Eu acho que os baianos dão importância demais a ACM, mas creio que é por falta de referência política. Sinto dizer, mas o mal não se encontra em ACM, muito menos o bem em Lula. O adversário agora não é ACM, é esta tal de Injustiça Social. Sabiamente Lula personificou a injustiça social. Mesmo que eu
não saiba muito bem o que é isso, ele vai lutar contra este monstro. Ele não, nós..."governo
participativo". Precisamos saber o que é injustiça social!
Só para lembrar...porque o Lula é muito esquecido, a primeira injustiça social que precisa combater esta debaixo da própria barba, no congresso, talvez a barba esteja grande demais, e ele não enxerga mais nada, a não ser ele próprio. Será que é combater ou deixar de práticar? A minha barba está de molho, companheiro Lula. Os holofotes agora estão em você. Esta é uma das questões, a injustiça social não é um adversário distante da gente, mas é para ser percebida em cada um de nós, em nossas pequenas ações. Esperamos que os próximos quatro anos muita coisa melhore.
Não quero conviver com o discurso petista que você foi incompetente para roubar, e termos que conviver com a “corrupção democrática”, novo conceito que surge no meio político.

observação: ACM não existe mais para ser o bode expiatório da esquerda baiana, talvez faça mais falta a esquerda às pessoas que um dia amaram ACM.

Victor Brandão
Povo soberano até ontem (29.10).

Lucubração


Escrevir este pequeno texto, após ler a imagem de Saramago sobre a transa divina-sexual de José e Maria no livro "Evangelho Segundo Jesus Cristo". Mas pode ser uma bela maneira de acordar todas as manhãs.

Abrir a cortina num hábito matinal. O sol resplandeceu no rosto, levando ao arder da pele a agonia nos olhos. Deixei a janela em meia cortina, e o quarto foi invadido por canhões de sol que luzem na cocha da mulher ainda sonolenta. No momento esfria a alma ao observar os raios de sol quase que penetrando a pele da moça na cama, vou até ela.
Com o lençol sobre o ventre, nada percebe, até que eu chego e levanto o lençol delicadamente, num desleixo ou sabendo dos deveres de uma mulher casada, as suas pernas se abrem e perfuma o ambiente com o aroma de mulher. Eu a percebo com toda admiração e respeito. Envolta com uma calcinha de renda com os pêlos pubianos perfurando o tecido, ela deixa escapar um suspiro. Eu prendo a respiração, como se existisse alguém para acordar naquela fina camada de pêlos, e beijo num simples e demorado toque. Os seus olhos de espera entreaberto não compreendem o significado de tudo.
Puxo com dois dedos sua calcinha para o lado esquerdo, e depois, o sol não é o único a tentar perfurar a carne feminina presente na cama. Adentro sua pele, as pernam caem para o lado e vejo um leve morder de lábios. Os meus suspiros mais constantes e ritmados, e ela, agora, com um leve sorriso no rosto prende os gemidos ainda surdos. Gritamos e gememos como se todas as forças do mundo convergissem para a cama. Aquele sutis traços de anjo sonolento, tinham se transformado em uma feroz mulher que rasgava minha pele em unhas e mordia meu corpo como predador a devorar sua presa. Parecia que aquele momento não teria mais fim, ou que seria nossa última chance de sentir os prazeres da carne.
O seu corpo já todo melado de suor e prazer escorregava pela minha boca, os seus cabelos cobriam minha face...
Gostaria de descrever o fim, mas estava muito embriagado de prazer para poder me lembrar alguma coisa. Aquele momento nunca mais vai se repetir em nossas vidas.

Última gota do desejo

Fonte: http://www.mcescher.com/

Qual a proveninência de tanto desejo?
Um gole de cerveja
Um banho de mar
Os corpos que se sorvem
A necessidade intransigente de ser livre
A transcedência da alma

Os seios hirtos, a espera de um afago
abrigam todas as emoções
A boca - o mais perfeito desenho -
melada de sal na busca do gozo
na luz da manhã não se farta com o último toque

Os suspiros sôfregos, melodias no ar
Os olhos cortinam o mundo
e revelam a alma, os corpos

Os corpos se tocam
E se tocam...
Não sabem a hora do fim

As carícias de nossas línguas
Excitam a cobiça alheia
E o universo passa a ser você
Num átimo que perfaz a eternidade
Quando num súbito

Num súbito e indispensável momento de lucidez
A última gota de fantasia se escapa
Sublimando a insaciável vontade de amar
O sabor do seu corpo adormece
nos meus lábios






Victor

A trajetória do Amor - Parte 1

Seria fácil se fosse em linha reta, mas anda em labirintos circulares na busca do centro acolhedor e estável. Na trajetória do amor a tentativa não é sair do labirinto, mas aprofundá-lo, permanecer perdido. E assim estou.

À primeira vista: cabelos pretos ao ombro, calmamente sentada, um belo decote. Poderia me apaixonar naquele momento, mas não tinha tempo, sair, e ela não passava de uma boa lembrança.

Sunday, August 12, 2007

Vagas lembranças, Muitas Histórias


fonte: http://www.mcescher.com/


VAGAS LEMBRANÇAS
Naquele momento de tristeza
Não me lembro das lágrimas
Só de um rosto pálido...triste!
Sem querer partir
Me lembro de um barco cheio de flores
De um barco sem mar
De um barco sem vida
As flores... eram tão belas tentando encorajar a sua partida
Agora, eu sei para que existem as flores
Vagas Lembranças
Veja um menino sentado, sozinho
Triste...??? Não me lembro
Talvez estivesse esperando uma resposta
Que demora de chegar
Quantas vezes mais este menino
Terá que embarcar a dor
Terá que embarcar a flor.
Técnica de Autobiografia
Fase 1
Às vezes eu tento lembrar de fatos anteriores aos 5 anos de idade e não consigo, parece que minha infância, minha memória e minha vida nasceram num mesmo dia, 1º de outubro de 1982, talvez a data não seja esta, mais isto não tem a menor importância, o que é relevante nesta data, é que foi o dia que meu pai morreu. Foi um dia de agitação lá em casa, não sei se as minhas lembranças surgem a partir das vivências dos acontecimentos, ou foi pelo fato de ter escutado esta história da minha mãe. O fato é que na noite anterior, ouço muitos choros e não sei o porquê, o quarto que eu dormia tornou-se numa cela da qual eu não podia sair, ele se tornou mais escuro e me parece que minha irmã ficou comigo, sete anos mais velha. No dia do enterro as coisas me pareciam mais claras, também era dia! Como eu estava dizendo foi um dia de agitação, a casa não parava de chegar parentes, e algumas pessoas apareciam com aquelas conversas idiotas que papai foi para o céu. Eu chorei muito para ir por enterro, não que eu quisesse ver o corpo, mas me pareceu que lá que era festa, houve uma certa resistência por parte de todos, mas diante de um escandaloso choro, meu tio psiquiatra achou por bem me levar. Eu já escrevi uma poesia sobre o momento no cemitério, não me lembrava da parte externa ou interna do cemitério, me lembro que algum tio me pegou pelo colo, e me levantou diante do caixão, na poesia eu chamo barco de flores, pois ficou registrado uma imagem de um homem negro, coberto por flores coloridas, protegida por uma fina camada de véu branco, do qual destacava seu rosto. Na seqüência de imagens, o garoto se recolhe num canto, senta num batente e brinca com as pedras. Na poesia eu me pergunto quantos barcos mais eu vou ver partir.
Ainda nesta idade ou um pouco depois, me lembro que brincava de aventureiro pelos becos do condomínio, que era formado por muitos prédios e muros, sempre acompanhando os colegas nas escaladas e passagens secretas. Eu tinha um amigo, que dormia com mais dois irmãos homens no quarto, e a menina dormia no quarto separado, no quarto do fundo, pois o apartamento só tinha dois quartos centrais, ainda tinha o pai e a mãe. Não sei por que mais eu achava a casa deles tão cheia, mas a diferença para minha família só era de um membro, talvez pelo fato da minha memória só iniciar com a morte do meu pai, ai a diferença aumenta para dois, é um valor significativo para uma família. Tinha um tio no antigo bairro, meu tio Eduardo, que já morava conosco, só que eu não me lembro da sua presença na casa. Eu só me lembro da presença dele no bairro que eu moro hoje há 25 anos, justamente a data de morte do meu pai. A palavra pai é quase sempre oca para mim, não consigo atribuir nenhum significado a não ser o trivial, o que casa com a mãe e tem um filho. Tem certas imagens que eu não sei se foram alimentadas pela insistência de fotos e histórias de minha mãe ou se são minhas enquanto experiências, mas me lembro de um velotrol vermelho que eu descia uma imensa escadaria de cimento, e no qual meu irmão pegava carona ficando em pé num apoio que tinha no fundo, um dia ele saiu de vez e eu bati a cabeça no chão, eu acho que foi a partir daí que a nossa relação sempre foi estranha, um pouco de exagero, não é?
Também, tem uma outra imagem, com a mesma ressalva anterior, que era eu tomando banho, me deu vontade de escrever “com o velho” (meu pai de forma carinhosa), e ele estava me ensinando como passar sabão num rosto, era uma coisa grandiosa para uma criança, aquele rosto negro todo cheio de sabão branco, eu queira fazer igual, na minha primeira tentativa conseguir dois olhos irritados pelo sabão e muito choro, ele me consolou e rapidamente lançou o jato de chuveirinho sobre os meus olhos, esta imagem do herói atravessa a humanidade, mas são coisas simples que enchem de alegria e dão cor a vida.
Ocorreu uma outra lembrança, após a morte do meu pai, estava pronto para ser uma criança insegura, todos os primeiros dias de aula eu chorava como criança (há, há, há! eu era uma criança) e queria voltar no rabo de saia da minha mãe (desde pequeno que eu gostava de um rabo de saia), como foi logo após o ocorrido (a ausência eterna do meu pai), ela até que se tornou condescendente, mas depois, eu me lembro que eu ficava horas chorando, até que me integrava no grupo, ela me disse a pouco tempo que aquilo deixava ela de coração partido, mas era preciso. E ela aprendeu esta idéia de parcial independência com o falecimento do marido. Parcial, pois surgiu uma outra lição na nossa família, que nunca estamos só, nunca poderemos viver neste mundo de relações, sem um apoio afetivo e efetivo.
Uma outra imagem freqüente era eu procurando um local na casa para amarrar uma corda e descer com o amigo pela janela, morávamos no primeiro andar, era fácil, eu acho. Eu não tinha mais herói, eu era agora o herói. O restante das imagens do antigo bairro é de brincadeiras, uma delas que permanece é de minha irmã brincando com um jogo de 5 ou 6 pedras, iniciava com uma na mão e ela tinha que jogar as outras entre a mão esquerda em forma de gol no chão, enquanto jogava a pedra da mão para o ar e empurrava rapidamente uma de cada vez, as que permaneciam no chão. E por aí vai as brincadeiras...
Depois que eu me mudei de Brotas, eu tenho a memória espalhada por muitos locais até os 12 anos, e este período foi um período de imensos acontecimentos para uma criança.
Fui para um outro condomínio, mais amplo e espaçoso, foi lá que aprendi a me defender das brincadeiras perversas dos coleguinhas, de apelido, zombaria, roubo de gudes, figurinhas, brigava com os meninos maiores, tornei-me reativo e talvez um pouco agressivo, de um certa forma era sempre estimulado pelos machos de plantão da casa, a retornar qualquer insatisfação em dobro, que contradizia com o ensinamento pacífico de minha mãe. Mas uma coisa é certa, tanto eles quanto minha mãe se preocupavam com os meus estudos, nunca minha mãe teve tantas dificuldades financeiras para cuidar de três filhos, mas conseguiu educar bem todos em bons colégios, mesmo com a mudança para um bairro distante, continuamos todos na mesma escola do antigo bairro.
Uma escola com um rigor monástico, era uma escola da igreja católica, uma parte era escola a outra era um convento. Era neste local que estão as outras lembranças. Fazendo um paralelo entre meu bairro e a escola, percebo que meu comportamento reativo foi progressivo a minha convivência com os meus amigos do bairro. Na escola era o oposto, tudo muito silencioso, cheia de rigores e formalidades. Toda segunda-feira pela manhã às 6:30 cantava o hino nacional e orava “o pai nosso” coletivamente. Eu era uma outra pessoa na escola, os professores nesta fase me faziam medo, um dia estava com tanta vontade de ir ao banheiro, mas não fui e fiz coco nas calças só porque a professora estava chateada e falou que ninguém ia sair.Só que nestas condições obviamente podia sair, até porque quando eu fui até ela eu já tinha feito o serviço e eu cheguei perto dela e pedi, ela sentiu o cheiro, olhou para mim com aquela cara, pensou “algo esta cheirando mal” e deixou eu ir. Depois foi um constrangimento, no intervalo, minhas calças sujas estavam com um cheiro desagradável, e eu tive que evitar a presença dos colegas, todos que chegavam até mim assoava o nariz. Quando eu contei este caso na família, o velho e esquecido tio falou que deveria ser também reativo na escola, que eu tinha direitos, e eu que pensava que era apenas com os meus colegas do bairro... esta vida de criança às vezes é uma merda.


Na escola sempre foi muito estimulado a boa convivência, coletividade, sempre tinha festas grandiosas de comemoração de alguma data. A imagem mais marcante da escola, foi a igreja, íamos rezar, já não bastava segunda-feira no pátio, todas as sextas na igreja subíamos uma imensa escadaria em forma de caracol, escura e estreita (Freud ia adorar esta descrição) em fila sem correr, no início da escadaria sentíamos um cheiro de massa de pão, o convento fazia pão para consumo interno e eu acho que as noviças desciam as escadas com as mãos sujas de massa e pegavam pelo corrimão. No meio da escada, em um determinado andar, surgia uma sala com cores lindas em tom vermelho, era a sala de vinho e licores, até hoje são os melhores da cidade, e os nossos pulmões e narinas eram presenteados com aquele cheiro de suco de uva em fermentação. A entrada pela igreja era internamente pelos fundos, antes de chegar, passávamos por um imenso jardim, era própria reprodução do Éden, só faltava os pecadores. Ao chegar na igreja passávamos pelo altar e éramos guiado pelas laterais das paredes para sentarmos nas cadeiras, antes toda a fila de criança percorria as laterais da igreja olhando os quadros do calvário, uns quadros tristes, com cores densas e escuras, vermelho sujo e muito preto e marron, éramos obrigado a passar olhando pelos quadros, o padre falava alguma coisa que eu não entendia, mas sempre achava bonito e os garotos sentavam juntos e ficavam se comunicando através de sinais, enquanto a diretora (uma rígida freira) e a professora tentavam nos vigiar.
Por essa mesma escada, chegava no auditório da escola, lá que eu acho que surgiu minha vocação para o teatro, as peças eram os momentos mais felizes e importantes daquele, deste e o de sempre modelo de educação. A relação de construir algo juntos, dividir nossos segredos de grupo no camarim, todos curiosos pelo o que ocorria lá e no ensaio, o momento de exaltação e criação.
Na Quinta série exatamente aos 12 anos, dificuldades financeiras, tive que ir para o interior estudar num colégio público, já que minha família julgava de melhor qualidade que os de Salvador. Morei um ano com minha vó e minha tia, justamente este é o marco da outra fase. Morar longe da minha mãe foi muito importante, apesar do ambiente ser familiar e eu adorar ficar no interior brincando, vivendo. Entre as crianças, os tipos de brincadeiras não eram de defesa e proteção, eram brincadeiras de convivência e amizade, era bonito. Nem sempre, por ser de outra cidade, precisei encarar algumas brigas no início. Para fechar o momento anterior eu falava para minha mãe que eu nunca queria crescer.